Dino Priante.
O Paraense e o Mariano são os grandes rivais do futebol obidense, com certeza até hoje posso afirmar isso, apesar de estar longe e não acompanhar o futebol de minha terra.
Parte das décadas de cinqüenta e sessenta, período que residia em Óbidos, acompanhava de perto esse futebol maravilhoso, principalmente dessas duas equipes, que se "digladiavam" no campo de futebol, com o entusiasmo de suas fanáticas torcidas.
O Mariano uma torcida mais elitizada, formada por religiosos, comerciantes, funcionários do Banco do Brasil, Sinval Dias e família, com exceção do Ariosto que é Paraense. Ocupavam sempre as arquibancadas do lado esquerdo do Estádio Rego Barros, hoje Praça Centenário. Lembro-me que a maioria ia em traje de "Missa", bem arrumados. Para sentar-se nas arquibancadas, puxavam seus lenços afim de não sujar as calças.
A torcida do Paraense, era formada principalmente pela massa, moradora das ruas: Umarizal, Prainha, Bairro do Camelo, estivadores, meu tio Titilo Savino, Haroldo Tavares, que nessa época era vereador, Sr. Silvestre Reis e todas suas filhas. Estavam sempre em peso no estádio e obviamente do lado oposto à torcida do Mariano. A torcida do Paraense se localizava em frente as arquibancadas. Lembro-me de torcedores fanáticos como Sr.Santarém, Sabá Bucheiro, que não perdia um clássico e ainda xingava o juiz. Pelo lado do Mariano tinha os Srs. João Pirão, Vivi Carvalho, José Félix (sempre questionando no tapetão). O que era interessante é que toda a torcida do Paraense localizada na lateral direita do campo, caminhava de uma ponta a outra acompanhando o ataque do time.
Nossa família (Savino) toda era Paraense, mas como tem sempre um do contra, meu querido tio Umberto (já falecido), era fanático cartola do Mariano. Já meu tio Silvestre(também já falecido) foi goleiro do Paraense por muitos anos, e sempre antes de começar uma partida, atacava-lhe um nervoso, sentia náuseas antes de entrar em campo.
Uma situação que jamais esqueço - Aos trinta e cinco minutos, os portões abriam-se, e geralmente nessa hora, entrava o Dr. Armando Cunha, grande odontológo, amigo de todo mundo, vindo do Bar Andrade, já com algumas geladas na cabeça, começava a gritar bem alto, como se estivesse transmitindo a partida ou motivando os jogadores. Aí era uma festa!
Outro amigo de meu pai, Sr. Areolino Amaral, pai de nosso amigo Ademar, vinha do Paraná de D.Rosa, especialmente para assistir o clássico, passava por casa, e dizia: Vamos lá italiano! Aí subiam juntos, ambos eram torcedores do Paraense, ficavam na arquibancada, logo na entrada do Estádio.
Até as freiras com suas internas, que aos domingos saíam para dar umas voltas pelas ruas da cidade, sempre uniformizadas, quando passavam pelo estádio, entravam para assistirem os últimos minutos das partidas, e quando havia alguma briga eram as primeiras que se retiravam, pois sempre estavam próximas ao portão.
Os jogadores acompanhavam o tempo de jogo pelo relógio da Igreja de Sant'Ana, pois havia uma parte do campo que se avistava perfeitamente a torre da Catedral, onde está o relógio.
Mas vamos aos craques da época, pelo Paraense: Goleiros: Silvestre Savino, Renato Martins, Sebo, Surdo. Zagueiros: Rui, Juraci, Mousinho, Cachorro, Firmo, Elias, Gil. Meio de Campo: Cachinga (um dos melhores cobradores de falta que assisti em Óbidos), Nicolau, Antônico (um dos chutes mais forte da época), Érgio. Ataque: Sequilho, Zeca (trabalhava em Tirió), Pascoal, Zezinho e outros.
No Mariano: Goleiros: Sgto. Souza, Sergio, Cabeça, Podaliro. Zagueiros: Cadágua, Fó, José Hamilton, Calango, Lola, Amiraldo. Meio de Campo: Criso, Jamarú, Dídimo. Ataque: Silvio Belo, Merunga (grande craque), Bicho e outros que não lembro.
Alguns jogadores eram estivadores, outros trabalhavam nas usinas de juta. Sabem onde era a concentração deles? No porão dos navios. Às quinze horas eram liberados para jogarem o clássico e ainda corriam noventa minutos, verdadeiro amor à camisa e ao esporte.
Faziam parte do Campeonato Obidense, além do Paraense e Mariano, O Paroquial, Vera Cruz, ECO (do José Gravata), Santos que foi fundado pelo Sr. Hélio Guimarães e às vezes o S. Pedro da Costa Fronteira.
Uma semana antes e depois dos clássicos, os comentários entre as rodadas de papos dos homens era o jogo de futebol no pequeno Estádio Rego Barros. Velhos e bons tempos que jamais voltarão.
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