Edilverto Santos - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Estamos no final do mês de fevereiro de 2016 quando volto minha memória para a cidade de Óbidos no Estado do Pará, para lembrar e compartilhar essas recordações com os que me dão o privilégio de suas leituras.
O assunto versa sobre a missa na igreja Matriz de Óbidos quando eu, ainda garoto, ia assistir a cerimônia religiosa de Domingo pela manhã com meus pais, obviamente sem maiores interesses que não o de continuar brincando com os colegas da mesma faixa etária.
A missa em si, seu ritual e importância para os Cristãos não tinha para mim maiores significados, senão mais uma oportunidade para brincar de “belário” (pega-pega) correndo por dentro da igreja durante a missa, e as vezes até pular na corda do sino fazendo-o tocar fora de hora quando o padre chamava nossa atenção e acabava com a “festa”.
O propósito dessas recordações em fevereiro de 2016 está na notícia de que o Papa Francisco acaba de expedir uma espécie de “carta circular” a toda Igreja Católica no mundo, recomendando moderação e contenção de entusiasmos no momento da missa em que se dá “a paz do Senhor”, lembrando Sua Santidade que esse momento está contido no cerimonial da missa, e deve ser feito de forma respeitosa e contrita, sem exageros.
Busquei me informar das razões dessa recomendação, imaginando que se houve necessidade da intervenção do Papa para disciplinar o assunto, é porque essa fase da Santa Missa estava saindo dos preceitos e suas finalidades cristãs.
Assim imaginando, soube que esse momento da missa em que os fiéis se cumprimentam “em princípio” só com um aperto de mão e desejam ao que está ao seu lado “a paz do Senhor”, estava se transformando em um momento de recreio entre os assistentes.
Muitos exageros estavam acontecendo regularmente nas Missas, a ponto de se transformar esse momento solene de transmissão da “Paz de Deus” como aliás recomendou Jesus, em um momento de interrupção mais prolongada da cerimônia religiosa para permitir e dar tempo aos presentes para atravessar o templo e cumprimentar efusivamente com abraços e beijinhos aqueles que por algum tempo não se viam, e ainda entabular breve e animada conversa.
Em algumas situações, o próprio padre oficiante também se empolgava e deixava a igreja para cumprimentar e dar a “paz do Senhor” ao pipoqueiro; ao pedinte na porta da Igreja; ao vendedor de balas e no meio do caminho também cumprimentava os fiéis, comportamento que estava consoante com minha observação em tom jocoso a uma bela amiga assídua frequentadora de missas, de que se um dia eu fosse à missa estando ela presente, procuraria ficar sempre ao seu lado para ganhar dela um abraço e um beijinho no rosto, a título de estar recebendo através dela “a paz do Senhor”. O Papa acabou com a “festa” e com as minhas más intenções.
Pela recomendação papal, agora só se deve cumprimentar com um simples aperto de mão o fiel que está ao seu lado, e lhe transmitir a “paz do Senhor” sem necessidade de contorcionismos para cumprimentar quem está no banco de trás às suas costas, e nem passar por cima de ninguém para cumprimentar quem está sentado na outra fila de bancos da igreja.
Justamente nesse momento da Missa as pessoas saiam do templo para conversar na frente da igreja Matriz de Óbidos. Quem fumava aproveitava para acender e pitar seu cigarro; os homens principalmente se concentravam na praça em frente à igreja e lá atualizavam suas conversas; comiam pipoca; frequentavam o banheiro das casas vizinhas etc. até o momento do padre chamar todos de volta, para dar continuidade à Santa Missa.Nesse tema e fiel ao título do artigo, lembro que na minha infância em Óbidos a Santa Missa era rezada em latim, o padre oficiante se postava de costas para o público e só se voltava para os presentes de vez em quando e em determinados momentos da cerimônia. O fato e costume mais curioso, estava no momento do “sermão” (homilia) que era feito pelo padre oficiante de frente para o público e em Português.
Certamente esse costume de abandonar o templo na hora do “sermão” (homilia) não era difundido como está nas Missas o momento da transmissão da “paz do Senhor”, mas se tivesse ultrapassado os limites de Óbidos acredito que o Papa também teria acabado com aquele recreio que precedia a Comunhão.
Belém-Pa, 27 de fevereiro de 2016