BOLOS SABOR NOSTALGIA

BOLOS SABOR NOSTALGIA
(Aproxima-se o Dia das Mães)

Izarina Israel Tavares. 

Há presenças que quando chegam a nós, preenchem por inteiro nossas vidas, mas, quando começam a ir-se, é como se pudessem nos destruir por longo tempo, até essa dor se acomodar.

Ninguém que não tenha passado por essa dor, jamais poderá imaginar.

Hoje, fazer um simples bolo de nome Holofote, é pura nostalgia.

Voltam lembranças leves, como que trazidas em asas de Anjos ou por pombas amestradas que pousam em minha janela da mente, ou libélulas, com bilhetes e cartinhas atreladas em suas perninhas, a me fazerem ouvir o zum, zum, zum, das vozes de minhas crianças a dizer:

- Essa raspa do bolo é minha, Sarah. E ela respondia:

- Tu já ganhaste a raspa do bolo passado. E Cristal voltava a retrucar:

- Mas, lembras que te dei a metade, né Sarah? Isso não lembras! E ainda ajudei a bater este bolo com mãezinha! Mas pode ir raspar a tigela do bolo!   E um outro retruca entre risos:   

-Tomara que te dei diarreia!.. E assim, Sarah sempre ia se dando bem, porque Cristal cedia sempre. Fosse para qualquer dos irmãos. Cedia, não por fraqueza, pois era forte, apesar da aparência delicada e angelical, mas, por puro amor.

     Muitas vezes, mesmo com o passar dos anos, após bater um bolo Holofote e colocá-lo na forma. não tendo a quem dar as raspas da tigela, encostava meus cotovelos a mesa, olhando a tigela escorrendo as raspas grossas que sempre deixava para eles, enfiava as mãos no rosto e copiosamente chorava de tristeza, de raiva da vida (e nunca de Deus), raiva por não entender os motivos do destino, enovelando-me em lágrimas que, escorriam copiosamente a cair por sobre a toalha de linho amarelecida, onde ela e eu; eu e ela, olhávamo-nos com saudades.     Saudades daquelas que já não estão, que se foram, mas, sempre estarão; e dos que ainda são e não estão.  Todavia, seus pratos, talheres, copos, taças, lá estarão à espera de...até as 15 horas, quando serão retirados para não causar constrangimentos. E sobremesas serão servidas.

Antes, todos vinham para a Ceia. Hoje a Ceia é só com o que ainda mora comigo a esposa e filho. Para o almoço, um deles chega sozinho com os filhos, ela também se foi, mas, aqui estará.

Todos com seus sorrisos e presentes, que fazem questão em trazer. Agora o menor dos pequeninos é quem determina o que devo receber de seus pais. Falo não ser preciso pois aniversário e Natal com intervalo de 23 dias ficam pesado. Mas, não entende o pequenino de economia. Outras duas estão fora da cidade.

E assim, após algum tempo, em outras datas, ficávamos, eu e apenas a mesa nua a nós alhar, pois, até a toalha de linho branca bordada em ponto Ajour, tom sobre tom, na cor champagne amarelada pelo tempo, também desapareceu, sumiu, deixando-me apenas a mesa nua por um tempo, que também já dei.

Hoje, estamos apenas a amiga e Inseparável Saudade, Eu, a Vida e a Felicidade, por ainda estar viva e ter aprendido a desfrutar de forma diferente e leve, buscando entender os Ciclos da Vida com muito amor, resiliência e perdão!

E crio hoje bolos inventados com Sabor Saudades para não atrair os doídos Bolos Sabor Nostalgia!