Nesta entrevista, o Delegado de Polícia e diretor do Grupamento Fluvial, Dilermando Dantas, fala sobre o resgate do Rebocador da Bertolini e tripulantes desaparecidos no naufrágio próximo a cidade de Óbidos, oeste do Pará.
Obidos.Net.br: Como está o andamento do resgate do Rebocador naufragado?
Dilermando: Primeiro temos que esclarecer alguns fatos. Há muitos boatos dizendo que os planos não foram cumpridos, que as coisas estão atrasadas. Na verdade não é bem isso, há um cronograma a ser seguido, desse cronograma a única coisa que foi alterada com relação ao plano de resgate foi em relação a colocação da rede em cima da embarcação naufragada e fechar a rede embaixo, pra tentar fazer o içamento. Porque não foi possível? Quando a empresa chegou aqui, ela encontrou a embarcação num plano diferente do que foi apresentado, em vez de estar normal, virado para cima, a embarcação está emborcada. Então, apresentou essa dificuldade e o pior de tudo é que está cerca de 70% soterrado, e como ele está dessa forma, a empresa passou a fazer a limpeza pelas laterais e em cima da embarcação, pra poder ter um local melhor de apoio, pra que a “pinça” possa fazer força na embarcação pra poder puxá-la.
Quanto ao Plano
Dilermano: Hoje, (23/11/2017) seria o dia em que esse içamento estava previsto ser feito, essa reflutuação. Então esclarecemos isso, que na verdade a única coisa que está alterado é essa parte ai. Se não correr no dia de hoje esse içamento, ainda está de acordo com o Plano, deverá alterar um ou dois dias. Porém, desde o momento que a empresa veio pra cá, salve engano, ela chegou aqui dia 16, o plano de salvatagem estava previsto de 12 a 15 dias, a partir do momento em que ela fosse fixada no local, ou seja, a partir do momento em que são colocadas as boias e o equipamento é fixado no local, a partir desse dia, seria de 12 a 15 dias.
Quanto ao empenho do resgate dos corpos
Dilermando: É muito prematuro tomar determinadas decisões, como a que foi pedida pra todos os órgãos envolvidos, que aqui estão: Marinha do Brasil, Defesa Civil, Centro de Perícia Renato Chaves, Segup, através do Grupamento Fluvial, as Seguradoras, a empresa que a seguradora representa, no caso a Bertolini, e a própria empresa que foi contratada que é a Smit. Então todos estão com um único objetivo que é o resgate dos corpos. Se fosse pela embarcação em si, você pode ter certeza que ficaria lá no fundo sem nenhuma preocupação. Você vê o caso Haidar, lá no porto de Barcarena, que está inviabilizando o atracadouro de três navios, porque o Haidar está lá em baixo, e olha o tempo tem, e não tem plano para tirá-lo do fundo.
Quanto as dificuldades
Dilermando: Aqui, a natureza nos impõe um limite muito maior. É praticamente uma operação de guerra, porque é uma operação contra a natureza, contra as características do local, uma correnteza muito forte, principalmente a que se apresentava no momento em que aconteceu o acidente, hoje essa correnteza é praticamente a metade do que estava. O rio baixou cerca de 7m a 8m. Estamos realmente no momento ideal para que possamos fazer esse içamento, porém, por outras condições, fez com que a empresa ao chegar aqui, a embarcação já tivesse de uma outra forma, no caso ela está com soterramento. Então, está se tentando fazer essa limpeza pelos lados, pra depois tentar içar.
Esclarecimento
Dilemarno: Falado isso, vou reforçar, o que temos falado sempre, mas me parece que não é dado essa importância. O motivo de todos os órgãos hoje, se encontrarem aqui em Óbidos nessa operação, é o resgate dos desaparecidos. Reforço isso, bato nisso, que tudo que importa é o resgate dos desaparecidos. Tanto que, todo momento que aparece um desdobramento e uma certa dificuldade, todo dia estamos fazendo reuniões aqui, levanta-se todas as hipóteses, daí toma-se uma decisão. Amanhã vamos tentar puxar a embarcação? O risco de cortar a embarcação ainda existe? Sim. A embarcação é muito grande, então vamos manter o que vem sendo feito para que possamos diminuir os ricos, pra que consigamos o objetivo que é o resgate desses desaparecidos. Porém, ressalto aqui, que quem tem competência para autorizar ou não, é a Marinha do Brasil, a qual reforça, que mesmo sendo dela a competência, como estamos reunidos em uma sala de situação de análise de crise, então a decisão passou a ser comum dos órgãos. O Capitão de Fragata Ricardo, que é o capitão da Capitania de Santarém, nos deixa muito à vontade com relação a isso, que mesmo a Marinha tendo essa autoridade, ele divide com a gente, essas alternativas, para que consigamos realmente fazer a reflutuação para tentar encontrar os nove desaparecidos.
Quanto a reunião com as famílias
Dilermando: Eu e o Capitão dos Portos já fizemos uma reunião com as famílias e deixamos bem claro para as famílias as problemáticas que se encontram. Porém, ainda temos um cronograma, pois estamos hoje no oitavo dia da operação e pela previsão é de que 12 a 15 dias, ainda temos uma “gordurinha” pra queimar quanto a isso. Então, vamos fazer isso para que demande menos risco para que a gente possa alcançar o objetivo que é a reflutuação pra encontrar esses nove desaparecidos. Tanto que antes eu sempre dizia para as famílias, eu rezo pra encontramos todos os nove desaparecidos lá dentro. Nessa reunião com as famílias, eu fui bem honesto com eles, hoje eu passo a rezar pra que a gente consiga tirar essa embarcação do fundo. Por que? Todos os desdobramentos que se apresentaram, eles aumentaram de sobremaneira a possibilidade da operação não conseguir êxito da reflutuação, mas isso são possibilidades. Vamos trabalhar com objetivo que é o resgate.
Obidos.Net.Br: As famílias estão em Óbidos acompanhando vocês nessas situações?
Dilermando: Na verdade os familiares estão no local onde ocorreu o acidente, acompanhando de perto essa movimentação. Ai fica aquela situação: há porque é muito lento?. É lento mesmo, pois o equipamento faz movimentos laterais, ele só iça e abaixa. Quando é pra mudar de um lado para outro, tem que movimentar a balsa onde o equipamento está, que vai para um lado e vai para o outro.
Quanto a forte correnteza
Dilermando: A questão da correnteza sempre existiu, mesmo diminuída ela ainda oferece muito risco para os mergulhadores. Ontem foi avaliada essa possibilidade de mergulho, porém, mais uma vez refutado por conta dessa situação, pois os riscos são muito grandes, certamente a visibilidade é zero, mas em fim, todos os riscos envolvidos nisso aí são grandes. O risco a vida de uma equipe que possa descer numa condição dessa, seria muito grande também. Então, mais uma vez foi descartado.
Tentativa de içamento
Dilermando: Estamos aguardado o dia de hoje pra saber que evolução teve, pra saber o que realmente vamos fazer. Se a partir de hoje já faz uma tentativa de puxar através do içamento ou não. Já foi feito uma tentativa e o rebocador nem se mexeu. No final do dia vai ser feito uma avaliação e por menor que seja a evolução da limpeza, da retirada dos sedimentos, é algo significativo pra nós, pois terá menos possibilidade de atrito com o fundo do rio, o que pode facilitar o resgate.