Wander de Andrade.
Conta os mais idosos em suas cadeiras de balanços, um fato que marcou a memória dos Obidenses no final da década de 30. O amor marcado pela tragédia, a fatalidade de uma notícia que circundava pelas ruas estreitas da cidade.
Ormínia havia se envenenado toda de branco, vestida de uma falsa certeza.
O cenário: o casarão, hoje o MUSEU da cidade, morava a família do Juiz da Comarca e juntamente com Ormínia agregada à família. Enamorou-se de um militar de certa patente, que prestava serviço no Quartel (hoje Casa de Cultura).
Todos os dias ela ficava à janela a sua espera, no final da tarde ele passava e deixava na rua uma extensão do amor de Ormínia.
E tão logo não demorou o noivado, a cidade sabedora de fatos secretos e públicos, não foi diferente, todos sabiam a data do casamento e a especulação por parte da população de quem seria convidada será que o fulano irá alinhado com a mesma roupa de Domingo, e que estampam as festas e cerimônias oficiais? Será que o cicrano e suas filhas vão ser as mais vistas na festa com seus vestidos de seda? Será...?
A cidade se resumiu apenas em um repertório de conversas nas esquinas: O casamento da filha do Juiz.
E como um temporal que arrasta embarcações, levando o desespero de seus tripulantes, a cidade foi inundada por uma noticia que marcaria profundamente as estórias de amor.
O noivo de Ormínia: O amor de Ormínia era também amor de Jurema, filha de certo Nicolau, morador da Rua das Incertezas, número não tão importante, de um bairro no Rio de Janeiro.
Jurema chegou à Obidos às cinco da tarde, no vapor vindo de Belém, chegou com suas certezas, chegou com intuito de resgatar as promessas levantadas no Altar “Que sejam felizes até que a morte os separe”.
No dia seguinte as janelas do casarão, permaneceram fechadas, havia rumores que Ormínia não suportaria a noticia, envenenara-se vestida de noiva, em um dos quartos do casarão. Fato comprovado, a cidade se preparava para o grande cortejo, para o choro anônimo, para enterrar amor que saíra do casarão e ilustrar as tardes de estórias que mais antigos contam a quem quisesse ouvir. “Neste casarão, ainda aparece à noiva do candelabro, vestida de branco, descendo e subindo escadas, ora aparece à janela como se olhasse o passado e visse o tempo que ainda não apagou suas lágrimas”.
Autor: Pessoas antigas, adaptado por Wander de Andrade
DORES DO CANDELABRO
Letra e Música: Wander de Andrade
Na solidão da sala
Um candelabro chora a luz
Sua Língua rasga o amor
E as escadas o seduz
Na solidão da sala
Um candelabro fere escuridão
O amor é um cálice derramado pelo chão.
Sentimento habitou a casa antiga
Velhas mãos vieram ofertar
Flores esquecidas
Desfiou-se a certeza do branca vestido
Que ainda se arrasta
À procura de amor perdido.
E janela engravidou um olhar de espera
Se abriu no íntimo da rua
Rosto e miragem
Que o tempo desenhou sua força
Com tintas de saudades.
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