TEMPORAL DE CIMA: Um olhar sobre um grande livro

TEMPORAL DE CIMA: Um olhar sobre um grande livro

Por Paulo Soares. 

Temporal de Cima, o belo e poético título do novo livro do amazônida Ademar Ayres do Amaral, já prenuncia toda a riqueza literária contida em suas páginas, dando uma demonstração ao Brasil e ao mundo, de quanto a Região Amazônica esconde hábitos, palavras, manias culturais e, principalmente, rincões geográficos nunca dantes conhecidos.

Último volume da trilogia iniciada com Catalinas e Casarões, continuada com Sementes do Sol, e agora concluída com Temporal de Cima, Ademar encerra com brilhantismo seu compromisso pessoal, fechando com emoção maior sua saga de revelar ao mundo os maneirismos e as vivencias de uma área da imensa floresta, muito pouco conhecida pelos próprios amazonidas de outras paragens.

Sua decisão brilhante de sequenciar o texto escorreito em duas épocas distintas, encadeadas no conhecimento final, permitiu um fechamento perfeito da epopeia de um escravo tentando viver sem sofrimento nos idos pré-abolição, e uma rica família ao longo de três gerações, nas partes então insalubres do Baixo-Amazonas.

A divisão perfeita de cada capítulo, se entremeando com uma narrativa em tempos diferentes, provoca emoções de tipos distintos, e o conhecimento de um linguajar difícil de ser assimilado pelo leitor não estudioso das vertentes da língua, que derivaram para aquele palavreado.

Difícil ao leitor decidir qual das épocas é mais interessante no livro, em termos literários. Apesar da parte vivida na cidade grande permitir uma melhor avaliação temporal, um primor de narrativa se encontra na caminhada selvática do – grande herói do livro – o escravo Eliseu.

Sempre conseguindo modular as épocas dos dois núcleos da sua narrativa, Ademar não deixa de situar as situações históricas de cada lugar, tanto no interior como na capital, numa forma interessante de confirmar seu período temporal, utilizando sempre suas recordações e pesquisas de grande significado.

Mas como todo romance que se preza tem um final feliz, Ademar provoca a ansiedade do leitor, só terminando no fim. E com uma forma muito boa para quem vivenciou todos os dramas e as alegrias contidas no volume.

Tenho condições de afirmar, sem receio de errar, que seu texto brilhante se compara aos poucos escritores da Amazônia, que exploraram as nuances desse povo, quer por estudo, quer por conhecimento.

Espero que enfim, esse livro, possa chegar ao Brasil varonil, que tanto clama pelos cuidados à grande floresta, sem ao menos conhecê-la de passagem.

Este olhar independe de uma relação de amizade estudantil, que começou nos idos dos anos 60, ficou em estado vegetativo por quase 50 anos, e agora, na parte quase final de nossas vidas, foi gratificada por um magnífico trabalho de grande profundidade. Parabéns, Ademar.

SAIBA MAIS

“Temporal de Cima” é o novo livro do obidense Ademar Ayres do Amaral

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