“Menores desvalidos nas malhas do Judiciário” livro da obidense Ana Cristina do Canto Lopes

“Menores desvalidos nas malhas do Judiciário” livro da obidense Ana Cristina do Canto Lopes

Ana Cristina do Canto Lopes nasceu em Óbidos/PA, município às margens do rio Amazonas, no coração da amazônia brasileira. Aos 17 anos se mudou para São Paulo, onde se graduou em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - FAI (1983). É mestre em Educação pela Universidade São Francisco (2005) e doutora em Educação pela Unicamp (2012).

Seu interesse pelas questões relacionadas à infância começou na década de 1990, quando trabalhou na Secretaria da Criança, voltados para a infância em situação de vulnerabilidade social, onde teve contato com crianças e adolescentes e suas histórias.

Especializou-se em Arquivologia pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (2002).  Atuou como arquivista no Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa em História da Educação – CDAPH, da Universidade São Francisco, instituição onde também lecionou, trabalhou com arquivos do Poder Judiciário da Comarca de Bragança Paulista, material basilar de seu livro “Menores desvalidos nas malhas do Judiciário – 1889 - 1927”.

Sobre o Livro “Menores desvalidos nas malhas do Judiciário 1889 - 1927”

“Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!” Era assim que a menina Leonor, personagem de O Cortiço de Aluísio de Azevedo (1890), respondia às caçoadas maliciosas dos fregueses e caixeiros da venda de João Romão. Em suas incursões pela taverna, a violência de cunho sexual a que a menina estava submetida era explícita: “não tinha um instante de sossego, [...] a fugir dos punhos calosos dos cavouqueiros que, entre risadas, tentavam agarrá-la”. Leonor então insistia, afirmando “que se queixava ao juiz de orfe” – quiçá o mesmo magistrado que a entregou a seus patrões. 

Resultado de densas pesquisas em aproximadamente 400 autos de tutoria e contrato de órfãos da Comarca de Bragança-SP, Menores desvalidos nas malhas do Judiciário (1889-1927) de Ana Cristina nos revela a experiência histórica de meninos e meninas pobres cujos destinos, a exemplo de Leonor, estavam à mercê dos Juízes de Órfãos da Primeira República. 

Curiosamente, no entanto, em alguns casos tratava-se de “órfãos” que tinham pai e mãe vivos; mas que, por serem pobres, eram retirados de suas famílias e entregues aos cuidados de tutores e contratantes pelo Poder Judiciário. Assim como Leonor, algumas das crianças que emergem das páginas que se seguem são negras, filhos e filhas de ex-escravas. O livro que temos em mãos é, portanto, uma contribuição incontornável para a História Social da Infância, bem como para a História do Direito e do Trabalho no Brasil.

Rodrigo Camargo de Godoi
Professor de História
IFCH-Unicamp

SERVIÇOS
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