VIAGEM NO TEMPO, poesia de Izarina Israel

VIAGEM NO TEMPO, poesia de Izarina Israel

VIAGEM NO TEMPO

Sonolentas valsas voluteiam

Em derredor do sino de ventos.

Minha mente vagueia lonjuras.

Sinto o nacarado aroma

Vindo da antiga penteadeira

Onde perfumes amarelos e lilases

Repousam esquecidos pelo tempo.

Acumula-se a poeira

Sobre e ao lado de cada frasco.

Escovas e pentes inesquecíveis

Inventam desenhos ao tê-los nas mãos.

Brancos lençóis

Cobrem a antiga cama

Que o vento tenta descobrir

Mostrando a colcha de seda

De bordas rendadas

De um lilás amorfo.

Do quintal

Vem-me o farfalhar das folhas do jambeiro

Que bailam ao vento

Produzindo saudades...

Debruço-me no parapeito para admirá-lo

Sobre o chão de terra escura

Pétalas de um profundo rosa magenta

Prenunciam a nova safra.

Passeio no velho e amado

Quintal de minha infância.

Cada árvore frutífera reclama minha ausência

Eu apenas me desculpo

Por não ter podido

Mantê-las comigo

Vivas e produzindo.

A que mais reclama é  minha goiabeira

Preferida entre todas

Por sua doçura incomparável.

Não tenho palavras

Também não tenho culpa!

Calo-me, no silêncio dos covardes

Choro, na inércia do meu arrependimento.

Quem não os tem?

Crescemos

Partimos

Deixando a infância para trás

Tudo...Tudo...

Somos novos seres

Sem nos esquecer quem fomos

Quem somos.

Enquanto a memória

Lúcida de saudades

Rasga o sangrento e esgarçado  coração

Tentando reviver o já vivido

Numa remota esperança.

É quase manhã

Sei que logo verei o sol

Com seu fulgor incomparável

Iluminar a Serra da Escama.

Nesse instante

Ouço o despertador

Programado para às 06:30

Chamando-me para mais um dia

de realidade.

Izarina Tavares Israel

29/08/21

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