VIAGEM NO TEMPO
Sonolentas valsas voluteiam
Em derredor do sino de ventos.
Minha mente vagueia lonjuras.
Sinto o nacarado aroma
Vindo da antiga penteadeira
Onde perfumes amarelos e lilases
Repousam esquecidos pelo tempo.
Acumula-se a poeira
Sobre e ao lado de cada frasco.
Escovas e pentes inesquecíveis
Inventam desenhos ao tê-los nas mãos.
Brancos lençóis
Cobrem a antiga cama
Que o vento tenta descobrir
Mostrando a colcha de seda
De bordas rendadas
De um lilás amorfo.
Do quintal
Vem-me o farfalhar das folhas do jambeiro
Que bailam ao vento
Produzindo saudades...
Debruço-me no parapeito para admirá-lo
Sobre o chão de terra escura
Pétalas de um profundo rosa magenta
Prenunciam a nova safra.
Passeio no velho e amado
Quintal de minha infância.
Cada árvore frutífera reclama minha ausência
Eu apenas me desculpo
Por não ter podido
Mantê-las comigo
Vivas e produzindo.
A que mais reclama é minha goiabeira
Preferida entre todas
Por sua doçura incomparável.
Não tenho palavras
Também não tenho culpa!
Calo-me, no silêncio dos covardes
Choro, na inércia do meu arrependimento.
Quem não os tem?
Crescemos
Partimos
Deixando a infância para trás
Tudo...Tudo...
Somos novos seres
Sem nos esquecer quem fomos
Quem somos.
Enquanto a memória
Lúcida de saudades
Rasga o sangrento e esgarçado coração
Tentando reviver o já vivido
Numa remota esperança.
É quase manhã
Sei que logo verei o sol
Com seu fulgor incomparável
Iluminar a Serra da Escama.
Nesse instante
Ouço o despertador
Programado para às 06:30
Chamando-me para mais um dia
de realidade.
Izarina Tavares Israel
29/08/21