Chico Alfaia.
Muitos anos já se passaram. Mas quando o assunto é o futebol obidense, de um passado não muito distante, a voz do "RrrriRi" ( pronuncia-se com sotaque do interior sulista ou do alemão aprendendo a falar português) ecoa nos meus ouvidos acompanhado da percussão feita na sua própria barriga, na ausência do bongô, sempre encoberta pela camisa enfiada para dentro de uma bermuda; uma elegância só.
A marchinha cantada, com orgulho, pelo "RrriRi" exaltava um dos melhores times que o futebol obidense já viu jogar, tanto no Rego Barros, quanto no Arizão: o PARAENSE.
Lembro que ainda criança, da arquibancada destinada ao Mariano, no Rego Barros, via o
Paraense jogar; dar show! Caxinga (Ronaldo Pantoja) cobrando falta com maestria, "passeando" em campo com a "pelota" nos pés. Sequilho driblando, infernizando a vida dos zagueiros... e a numerosa torcida do Mariano vaiando.
Nos anos setentas e oitentas, como jogador do JAC de Santa Terezinha, antes de entrarmos em campo, ficávamos no local para nós reservado, de costas para a Catedral de Sant'Ana. De lá, viamos quando o Sr. Antônio Cabanela abria o portão pelo lado da Avenida Dom Floriano e confesso o meu incômodo quando entrava o Valdir, Pincha e outros jogadores, estatura acima da média do nosso time e todos bons de bola; Craques. Era muito bom ver o Paraense das arquibancadas, melhor ainda enfrentar esse timaço dentro do campo. 1963, 1975, 1980, 1981, 1989,1990, 1993, 2005: alguns dos anos em que o Paraense foi Campeão Obidense.
Hoje, com tristeza, recebi uma imagem em que aparecem alguns dos troféus conquistados por essa vencedora instituição do futebol obidense. Posso imaginar quanto suor, quanto empenho, quanta força, quantas lágrimas, quantas porradas foram dadas e recebidas para que essas conquistas acontecessem.
Mas os troféus estão lá num cantinho de uma sala, mudos, opacos, esquecidos, desvalorizados, como se não fizessem parte de uma emocionante história do nosso futebol. Como se o tempo, regido pelos homens, tivesse trancafiado perpetuamente essas recompensas para escondê-las, num insano e incompreensível gesto.
O silêncio deles, dos troféus, incomoda.
Um time Campeão não pode ser esquecido.
Seus troféus, ícones de suas muitas vitórias, têm que tinir. E, tinindo, e outra vez brilhantes como foi e, tenho esperança que voltará a ser o Paraense, a voz do "RrrriRi" venha com mais força não só nas minhas lembranças, mas nas memórias de todos os seus torcedores e todos cantem num só tom: "QUEM QUISER PODE FALAR MAS SOU PAPÃO".
Foto cedida por Chico Alfaia.