ÓBIDOS 320 ANOS: Óbidos, 163 anos de emancipação política

ÓBIDOS 320 ANOS: Óbidos, 163 anos de emancipação política

Por Prof. Carlos Vieira.

Lendo a matéria publicada no site Chupaosso, intitulada “Óbidos: 320 anos”, gostaria de fazer alguns comentários que certamente contribuirão para uma reflexão a cerca da data de sua fundação, e consequentemente, sua emancipação política.

É certo que o governador da Província do Grão Pará, senhor Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, no intuito de conhecer os problemas da região, ao passar em frente onde hoje está localizada a cidade de Óbidos, constatou que já havia sido observado por Francisco Orellana entre os anos de 1541 a 1542, e o sertanista Pedro Teixeira, no ano de 1636, ser o local ideal para a construção de uma fortaleza, o que certamente garantiria o domínio português na região. No entanto, a determinação real a Manoel da Mota Siqueira, seria a construção de quatro fortificações no Rio Amazonas (Paru (Almerim), Santarém, Manaus e Acaqui). Para que o forte do Estreito (como era conhecido o acidente geográfico que fica em frente a cidade de Óbidos. Angustura. Garganta), foi construído, era preciso uma determinação da coroa portuguesa.

No dia 26 de julho de 1697, o governador encaminhou ao rei de Portugal, Dom Pedro II, uma correspondência solicitando a construção de uma fortificação no Estreito, um pouco abaixo da entrada do Rio Trombetas. No dia 14 de setembro do mesmo ano, o Conselho Ultramarino de Lisboa deu o parecer favorável a suspensão do forte de Acaqui (que ficava próximo a Santarém), e a construção do Forte Pauxis. No entanto, a autorização real só aconteceu no dia 12 de dezembro de 1697.

Se considerarmos que uma viagem de Portugal ao Brasil durava em média de 45 a 60 dias,  visto que inexistiam os veículos  de comunicação que temos atualmente (telefone, internet, etc), é humanamente impossível que essa autorização tenha chegado até as mãos do governador e consequentemente do superintendente no ano de 1697 (em apenas 19 dias), e nesse mesmo ano, tenha sido iniciado os trabalhos de construção da fortificação.

Diante do exposto, só nos resta analisarmos: se relacionarmos o marco de fundação da cidade de Óbidos, a construção do Forte Pauxis, então nossa cidade tem exatamente 319 anos de existência. Porém, se considerarmos a data da autorização da construção da fortificação, Óbidos estará completando no dia 12 de dezembro de 2017, 320 anos. Porém, É de bom alvitre ressaltar, que não podemos tirar a Certidão de Nascimento de uma criança, ainda no ventre materno.

No dia 25 de março de 1758, em passagem pela Aldeia dos Pauxis, o Governador da Província, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, reuniu três Aldeias: a primeira que ficava junto a fortaleza; uma segunda, também chamada de Aldeinha, ficava onde hoje está localizada a comunidade de Arapucu, e uma terceira, denominada por Mendonça Furtado de Arcozello, onde hoje está localizada a cidade de Curuá, e elevou a Aldeia dos Pauxis as condições de Vila, com o nome de Óbidos.

A Vila de Óbidos passou a ter uma organização politica, cujas autoridades (diretores, Vereadores, etc.), eram nomeadas diretamente pelo Governador da Província. Sua economia sempre esteve baseada na Pecuária (desde a segunda metade do século XVII) extrativismo animal, vegetal, o cultivo da mandioca, cacau, tabaco, etc. Passamos pela Cabanagem, onde destacaram-se como lideres regionais, os irmãos Sanches de Brito. Tivemos como primeiro representante no Poder Legislativo Estadual, o Padre Raimundo Sanches de Brito, eleito no ano de 1835 e reeleito no ano de 1837, Deputado Distrital.

No dia 02 de outubro de 1854, através de uma Lei Provincial, a Vila de Óbidos foi elevada a categoria de cidade. Desde então, passamos a ter um feriado municipal e manifestações cívicas eram realizadas com a participação de nossas autoridades locais. Segundo relatos orais,  tiros de canhões eram disparados, desfiles escolares, sessões cívicas, passeios ciclísticos, missas, cultos ecumênicos, maratonas, jogos de futebol entre os clubes mais tradicionais, ginásticas, etc., eram realizadas em comemoração ao aniversário da cidade. Lamentavelmente, nos últimos anos, as comemorações alusivas ao aniversário da cidade, tem se limitado a suspensão dos serviços públicos.

Neste ano (2013, primeira versão deste artigo), não ouve qualquer iniciativa oficial por parte do poder público, só não passou despercebido devido a paralisação de nossas escolas e das demais Secretarias Municipais. Se a desculpa é a eleição parece que é um equívoco, pois um passeio ciclístico, uma missa campal, um culto ecumênico, uma maratona ou um show com os artistas da terra em nada atrapalharia o processo eleitoral. É preciso voltar a despertar no coração de cada obidense o orgulho regional, e isso só acontecerá com ações efetivas de cidadania, dando a população a oportunidade de se manifestar, de participar, de poder demonstrar o amor que sente pela sua terra natal.

Termino parafraseando o grande mestre Francisco Manoel Brandão, quando através de seu livro Terra Pauxi, fez uma declaração de amor a Óbidos,  na passagem de seu centenário:

Ninguém sabe quando nasceste. É um segredo que o primeiro cacique pauxi confiou ao pajé da tribo e este, em vez de guarda-lo na memória da comunidade, na lembrança das gerações vindouras, levou-o consigo para as  entranhas da terra ou para o seio misterioso das águas.[...] Ah! Quem me dera , neste dia grandioso de teu centenário, estar junto de ti! Rezar contigo, rezar por ti todas as rezas que aprendi da boca do povo; todas as orações que a zelo espiritual e a ternura de minha mãe me ensinaram a dizer[...] eu te peço mais não te comovas [...] crê sempre na estima de teus filhos. Perto ou longe de ti, há neles  uma força irresistível, uma paixão telúrica que supera todas as distâncias, todos os sentimentos contrários ao amor que cada um deve a sua terra natal!

Se os fados não me permitirem tocar, no dia de teu centenário, o chão onde me ensinaste a caminhar, não esqueça que eu jamais esqueci a

Minha formosa Pauxi!

Querida terra natal!”

* Texto originalmente publicado em 2013

 

 

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