ÓBIDOS – 320 ANOS: Feliz Aniversário

ÓBIDOS – 320 ANOS: Feliz Aniversário

Por Haroldo Figueira.

Aniversários são datas comemorativas importantes, com o condão de mexer com o estado emocional das pessoas. Servem para lembrar que, justo naquele dia, nasceu para nós alguém ou algo muito querido. Apresentam-se, também, como ocasiões propícias para que prestemos ao ser amado as justas homenagens por existir e por fazer parte de nossas vidas.

Neste 2 de outubro, Óbidos aniversaria. Na condição de filho que se encontra distante há bastante tempo, mas que nem por isso teve diminuído o carinho pela terra que lhe serviu de berço, gostaria de apresentar-lhe as minhas felicitações. Qual a melhor forma de reverenciá-la? Se fosse uma pessoa, além de falar do meu amor, mandaria flores, enalteceria suas qualidades e virtudes, formularia votos de saúde e felicidades.

Trata-se, porém, da minha cidade. Nesse caso, o rito torna-se um pouco diferente. Penso que o melhor meio de homenageá-la é tentar, com o auxílio da memória, ressaltar aquilo que nela mais me cativa, qual seja, os encantos de suas belezas naturais, a riqueza de suas tradições e, sobretudo, a inteligência, a alegria, a espirituosidade, a índole benevolente de sua população.

Como esquecer o espetáculo das manhãs ensolaradas, com o astro rei despontando por detrás da Serra da Escama e, após cumprir sua tarefa de espargir luminosidade intensa sobre o lugar, recolhendo-se, avermelhado, ao final do dia, no horizonte para as bandas da Costa de Cima, não sem antes deixar o firmamento matizado de cores suaves e completar sua despedida crepuscular marcando a superfície do Rio Amazonas, de uma margem a outra, com uma brilhante faixa alaranjada.

Como não se sentir bem revivendo espiritualmente: o encanto das noites frescas, tranquilas, banhadas de vez em quando por um luar esplendoroso, notadamente no mês de agosto, a convidar para uma seresta à base de voz e violão; a magia de apreciar a amplitude do céu bordejado de estrelas cintilantes, fonte de inspiração e de estímulo para notívagos de diversificados perfis, sejam eles poetas verdadeiros, trovadores ocasionais ou boêmios incorrigíveis?

Como não lembrar: das imersões preguiçosas nas águas frias do Curuçambá, Igarapé do Pau, Cipoal e Retiro da Fonte, entre tantos outros riachos da região; de lagos ricos em pescado como Mamauru, Arapucu, Curumu  e Sucuriju; das pescarias de linha comprida na Pedra Grande ou no Pingo D’água; do exercício contemplativo, praticado no alto da  barreira por trás do cliper de Santana, na extensão que vai do  Paturi ao Geretepaua, ao movimento das embarcações que sobem e descem o Amazonas?

Como não constatar (parodiando o músico popular) que “eu era feliz e não sabia” ao rememorar: as brincadeiras de infância envolvendo o empino de papagaios, os jogos de petecas, as corridas de rodas movidas por arames, os belários em terra, na água e nos galhos dos cajueiros e mangueiras do quintal do Amadeus, as peladas nas ruas sem calçamento, entre tantos outros folguedos infantis?

Como apagar da mente: os volteios incansáveis, as paqueras e os namoros, o burburinho do arraial da Praça de Sant’Ana, principalmente por ocasião da festa da Padroeira; as tertúlias e “assustados” promovidos pela Juventude Recreativa Obidense (JRO); os bailes da ARP; os bate-papos divertidos no Bar Andrade;  as incursões noturnas pela mercearia do Chagas com vistas a saborear as famosas linguiças de carne de boi?

Como não sentir a boca encher-se de água ao recordar: quando chega maio, do cheiro de jaraqui moqueado ou frito exalando de quase todos os lares; e, a partir de setembro, da oferta generosa e diversificada de peixes para todos os gostos; do prazer inigualável de saborear pitiús assados de brasa; de saciar o desejo de comer os deliciosos ovos de tracajá; isso tudo em uma época em que ingerir essas iguarias não infringia regras do politicamente correto, nem transgredia proibições?

Como não se admirar: com o casario antigo que, embora sem os devidos cuidados de preservação, resiste aos rigores do tempo; com as edificações carregadas de historicidade como o Forte Pauxis, a fortaleza da Serra da Escama e o belo e imponente Quartel General Gurjão; com o simbolismo da predominância da fé cristã perpetuado na centenária Catedral de Sant’Ana e na Capela do Bom Jesus (e seus sinos álacres de outrora) erguida como pagamento de promessa contra as ameaças invasivas da Cabanagem?

Como não vibrar mentalmente com os embates futebolísticos entre Mariano e Paraense no maltratado gramado do Estádio General Gurjão, com a elegância e a extrema intimidade com a bola do craque Ronaldo Caxinga; com a habilidade, competência e visão de jogo de atletas como Jamaru, Bicho, Merunga, Dídimo, Juraci Maracajá, Pacu e Sérgio Santos?

Como não sentir orgulho de ser conterrâneo de gente ilustre da estatura intelectual de um José Veríssimo, de um Inglês de Souza, de um Francisco Manoel Brandão, de um Ildefonso Guimarães e de um Constantino Barros; de gente animada como o Antonico Pé de Arpão e Mário Prata, promotores de carnavais de rua e de festejos juninos memoráveis?

Como deixar de reconhecer o trabalho dedicado de educadores como o professor Manduca, as professoras Glória Corrêa Pinto, Cora Simões, Maria Iza de Souza, Maria José Caluff e Idaliana Marinho de Azevedo; ainda, professor Douglas Cohen,  Frei Rodolfo, Irmã Clemens, Irmã Otaviana e Irma Canízia?

Como não ter saudades: da companhia agradável de pessoas de sorriso franco como dona Chaguita; ou de gente amiga e bem humorada como o Ary Ferreira, o Mário Rego, o Zezinho Andrade, o Titilo Savino, o Júlio Boto, o Paulo Matos, o  Hermógenenes Costa e de suas chacotas hilariantes e criativas?

Como não exprimir gratidão: a pessoas a quem os obidenses tanto devemos, como Dom Floriano – e a seus colegas de batina, frades da ordem franciscana – pelo trabalho não apenas missionário, mas em prol da melhoria das condições de vida da população local; às freiras pertencentes à Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição por sua eficiente ação educativa; ao Deputado Raymundo Chaves por seu envolvimento com a comunidade, não só como médico, mas como gestor idôneo da coisa pública?

Antes de encerrar, devo salientar que os nomes citados são apenas ilustrativos. Há certamente, muito mais obidenses, filhos naturais ou adotivos, dignos de reconhecimento e de menção honrosa. Relacioná-los todos, aqui, implicaria prolixidade em demasia, além de não eliminar o risco de se cometer injustiças por conta de eventuais e involuntárias omissões.

A Óbidos, pois, além da renovada expressão do meu amor filial, os meus votos no sentido de que consiga, no futuro, reencontrar-se com um porvir auspicioso, à altura de seu passado de glórias. Em outras palavras, que passe a ser conhecida não pelo epíteto jocoso de “a cidade do já teve”, mas como um centro urbano desenvolvido, capaz de tornar concretas as expectativas de bem-estar social pelas quais seu brioso povo tanto e há muito tempo anseia. Parabéns!

www.obidos.net.br

 

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