Haroldo Figueira
Cresce de modo expressivo o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Já somos 26,1 milhões, o equivalente a 13% da população do país. Sem dúvida, a causa principal dessa longevidade ascendente reside nos avanços da medicina. Há, porém, outros fatores contributivos como a mudança de hábitos alimentares e o cuidado com a forma física.
Vale lembrar que, até o início da segunda metade do século passado, uma existência mais alongada era privilégio de pouca gente. No tempo em que eu era criança, em Óbidos, os adultos falavam com ar de admiração de uma figura lendária, que não cheguei a conhecer, chamada tia Olaia. Ela teria vivido até os 100 anos. Cresci, tornei-me adulto e, até deixar minha cidade, não tomei conhecimento de outro conterrâneo que tivesse alcançado essa marca centenária.
Hoje a realidade é bem diferente. Para se ter uma ideia, de 1960 para cá a expectativa de vida dos brasileiros aumentou 25 anos. Dados do último censo, realizado em 2010, dão conta de que há cerca 24 mil cidadãos com mais de cem anos vivendo no país, sendo que a Bahia, com 3.525 anciãos, lidera entre as unidades da federação com habitantes nessa faixa etária, chegando mesmo a ultrapassar São Paulo (3.146) e Minas Gerais (2.597), estados sabidamente mais populosos.
Estudiosos da cronologia da vida subdividem-na em pelo menos três níveis: primeira idade, que agrupa pessoas com até 20 anos; segunda idade que reúne as que se encontram na faixa entre 20 e 60 anos; e terceira idade, que abriga as de 60 anos em diante, consideradas idosas.
O aumento da longevidade trouxe, junto, a possibilidade de um viver mais qualificado. Ao contrário do que se via há cerca de cinco décadas, sexagenários, septuagenários, octogenários e, em alguns casos, até nonagenários, ponderadas as limitações fisiológicas naturais do processo de envelhecimento, exibem, atualmente, saúde e disposição para desfrutar dos prazeres que o mundo tem a oferecer, entre os quais viajar, hospedar-se em hotéis, ir a bailes, participar de competições esportivas, curtir a vida, enfim.
Ora, pessoas portadoras de razoável poder aquisitivo, com as situações patrimonial e de renda já resolvidas, aptas e determinadas a consumir, não poderiam passar despercebidas para quem opera negócios. E não passaram. Tanto que logo se tornaram alvos preferenciais de bem elaboradas campanhas publicitárias promovidas pelo setor empresarial.
Uma das estratégias do marketing comercial direcionado para esse nicho promissor de consumidores tem consistido em substituir o conceito de terceira idade pelo de melhor idade, com o objetivo claro não só de agradar a potencial clientela, mas também de estimular-lhe a autoestima, desconstruindo eventuais visões preconceituosas de gente que ainda confunde velho com imprestável.
Ao final, cabe indagar: é verdadeira a premissa de que quem se encontra na terceira idade está efetivamente na melhor idade? Difícil de responder. Em todas as fases da existência o ser humano depara-se com ganhos e perdas, êxitos e fracassos, alegrias e tristezas. Pessoalmente, estou de acordo com boa parte dos pensadores, antigos e atuais, que considera a felicidade o bem maior da vida e que a traduz como saúde no corpo e paz de espírito. Por essa ótica, a melhor idade estaria na faixa etária em que a pessoa sente-se ou sentiu-se mais feliz.
Natal, 12 de abril de 2018.