Dino Priante.
Rala-rala, é uma bebida que aqui em Belém e principalmente nas praias do nordeste brasileiro, conhecemos como raspa-raspa.
O rara-rala é o suco da fruta servido com o gelo picado ou raspado manualmente com um equipamento feito de alumínio, como se fosse uma plaina. Esse gelo raspado é colocado no copo e posteriormente acrescenta-se o suco da fruta.
Em Manaus, essa iguaria é muito vendida, mas desde os anos setenta, os carrinhos importados do Oriente, já vinham com um equipamento, que ao rodar uma manivela, pressiona o bloco de gelo contra uma lâmina, saindo o gelo raspado.
Na Itália o rara-rala, também é bastante apreciado, sendo vendido em lanchonetes e bem sofisticado, o nosso rala-rala ou raspa-raspa, tem a denominação na península de granita.
Na nossa Óbidos, era comum a venda dessa bebida na zona do comércio e no campo de futebol ou onde tivesse alguma comemoração.
Um dos mais famosos rara-ralas de Óbidos, era do “Cabo” Antonio, instalava-se na esquina do bar do Sr. Mario Torres, no térreo do Mercado Municipal. Os sucos mais solicitados, eram de cupuaçu. abacate, tamarino, coco, abacaxi, uxi e peroba.
O “Cabo” Antonio era cheio de presepada, quando servia o rala-rala, ele dizia: olha o cupuaçu, que da força no.......... isso que você esta pensando, o abacate que dá força no fla..........., é bom para criança, adultos e velhos.
O pessoal que vinha do interior vender seus produtos na cidade, sedentos por algo gelado, eram os maiores consumidores dos rara-ralas. Na cidade havia poucas residências com geladeiras, imaginem na casa de nossos irmãos ribeirinhos, conheci pessoas que todo o dia estavam tomando o rala-rala, a maioria tomava seu suco, acompanhado com um pão de massa fina, da padaria do Sr.Antonio Padeiro, que por sinal era muito gostoso.
Agora infelizmente, a falta de higiene predominava nessas bancas, porque utilizavam uma bacia com água, que ficava a manhã inteira, só jogava o copo na bacia, dava uma chacoalhada, e já servia a outro freguês, desconhecíamos ou não havia os copos descartáveis. Meu pai, quando me via tomando rala-rala, sempre me chamava atenção, em virtude da higienização dos copos, geralmente eu pegava um copo no comércio do papai, e nele era servida a iguaria, assim driblava parte da falta de higiene.
Outro senhor que vendia o rala-rala era o seu Marcinho, se instalava em frente ao Trapiche Velho, mas não conseguia disputar com o “Cabo” Antonio, visto que, esse lá pelas duas horas da tarde se mandava, tudo vendido, e o Sr. Marcinho ainda ficava para terminar seus sucos.
Outro vendedor de rala-rala conhecido, era o Mariano e seu irmão Cachorro, se localizavam pela lateral da loja do Sr. Chocron, ao lado do tacacá do saudoso Senhor Pindoba, ou enfrente da loja do Sr.Pedro Nolasco.
Todos nós tínhamos nossas preferências, em virtude do tratamento, amizade e da quantidade de suco que era colocado no copo.
Eu costumava tomar o rala-rala do Sr.Marcinho com o pão doce vendido pelo Piranha, de fabricação da senhora Lula, esposa do Sr. Joãozinho Souza, ou então com as deliciosas berlindas, fabricadas pela senhora Juracy, esposa do Sr.Inácio (grande marceneiro), eram vendidas pelo seu filho Carlinho, tanto o pão doce quanto as berlindas eram muito bem condicionadas em uma caixa de madeira, com vidros, onde a poeira e os insetos não penetravam, e manuseados com um pegador de alumínio ou inox e servidos no lenço de papel.
O gelo que abastecia as bancas de rara-ralas era do famoso Bar Andrade, pois sua fábrica ficava ao lado da sala onde tinha as mesas de sinuca, os vendedores, na descida para o comércio já passavam na fábrica e envolvia o gelo em uma saca que vinha embalada o açúcar de 50 quilos.
Nessas minhas últimas vezes que tenho ido a Óbidos, não tenho visto rara-ralas, acredito que esse hábito é coisa do passado, onde matávamos a sede nos dias de altas temperaturas.