Dino Priante.
Em 1854, Óbidos passou a denominação de Cidade. Até essa época a maioria de habitantes estrangeiros deveriam ser de Portugueses. No final no século XIX principio do século XX começaram a chegar os italianos. Mas às raças europeias que dominaram o comércio, indústria e serviços em nossa cidade foram: os judeus, portugueses e italianos.
Conheci pessoalmente, apesar de muito garoto o Sr. Yontob Hamoy (judeu egípcio, do Cairo), patriarca da família Hamoy e sua esposa Sra. Rebeca Hamoy, também egípcia, poliglota, ambos já vindo do Lago do Sapucuá município de Oriximiná. Grandes comerciantes, que foram seguidos pelo seu filho Sr. Isaac Hamoy, proprietário da usina de juta denominada: Pérola, seus irmãos Benjamin, Félix e a Sra. Mary, cada um tinha sua função no grupo comercial, a exceção foram a Sra.Esther e o Dr.Maurício Hamoy, médico ortopedista, hoje já aposentado, reside em Óbidos, prestando seus conhecimentos profissionais aos conterrâneos. A empresa Hamoy e Cia. empregou centenas de obidenses, nos diversos segmentos de suas empresas, compravam todos os produtos extrativos da região, além da juta, cumarú, castanha, jutaicica, madeiras e etc. Naquela época (décadas de cinqüenta e sessenta) era comum a comercialização de peles de animais silvestre. Papai que também era comerciante, quando abordava um freguês, esse dizia que ainda iria vender um couro de onça ou veado e depois retornaria para fazer as compras; meu pai propunha caso fizesse suas compras em nosso comércio, lhe compraria o produto. Depois eu ia até a loja da família Hamoy ou Belicha, vender-lhes a mercadoria.
Outro grande comerciante judeu que havia em Óbidos, foi o Sr. Samuel Cohen, dono de um dos bonitos prédios na Siqueira Campos, seus filhos Dr. Jofre Cohen, formou-se em medicina, chegou a montar uma clínica em Óbidos (Clínica Sant’Ana), depois se mudou para Manaus e o Dr.Douglas Cohen, graduado em engenharia civil, foi meu professor de desenho, no ginásio São José, trabalhou muitos anos no Departamento Estadual de Estrada de Rodagem (DER-Pa).
Após a morte do Sr. Samuel Cohen, outro judeu que trabalhava em Juruti, Sr. Marcos Jaime Belicha, comprou o prédio dos herdeiros assim como a usina de juta e olaria do grupo Caiba, que era de um italiano chamado Rodolfo Grandi.
Sr. Belicha, veio para aumentar as exportações de Óbidos e dinamizar o comércio, hoje a firma é dirigida pelo seu filho, meu amigo Marcos Jaime.
Outra grande contribuição judaica foi o Sr. Chocron, comerciante e usineiro de juta, também comercializava produtos extrativos da região, comprava couros bovinos, que após salgado, era vendido para os curtumes da região, esse serviço era comandado por seu funcionário de confiança, chamado Papaléo. Com a morte do Sr. Chocron, seu filho Fortunato, desenvolveu a empresa e chegou a colocar Óbidos como a segunda cidade do Pará com maior volume de exportação.
Essas três empresas: Hamoy e Cia, Chocron e Cia e Viúva Marcos Belicha, comandavam as exportações em Óbidos, deixando os comerciantes, gerentes de Bancos.
e a população feliz e meu tio Titilo também, que agenciava as empresas de navegação, porque a economia obidense estava sempre aquecida, tenho certeza que a época áurea da juta foi o período em que Óbidos teve o maior progresso econômico.
Havia um outro judeu, mas era um pequeno comerciante, chamava-se David Assaiag, tinha seu comércio onde hoje é o comércio do Sr. Urbano Iúdice.
O Português mais abastado de Óbidos, que disputava na comercialização da juta, com o trio acima citado era Sr. Francisco Coelho, dono da Usina Paraense, além da juta dedicava-se a pecuária, era conhecido como um dos maiores criadores de bovinos da região. Outro lusitano era o Sr. Álvaro Pinto, pecuarista da Costa Fronteira, pai de doze filhos, gozava de grande conceito na cidade.
Farmácia Esculápio, comandada pelo farmacêutico português José Cardoso Ayres, pessoa muito conhecida na cidade, usava sua experiência profissional atendendo as pessoas enfermas, com isso salvou muitas vidas. Em seu traje diário, estava sempre de gravata borboleta. Meu pai na década de quarenta, sofreu um corte profundo em uma das mãos, Sr. Ayres fez-lhe a sutura; na época sem anestesia.
Havia outros portugueses como o Sr. Vidal que era dono de Panificadora, Sr. José Amaral (Zé aguadeiro) pequeno comerciante, e o Sr.Zé Português que era da construção civil, esses foram os portugueses que conheci.
A maior colônia européia que havia em Óbidos era de italianos, todos comerciantes, noventa por cento da província de Potenza.
Meu avô Silvestro Savino, comerciante e pecuarista, proprietário da Formosa Obidense, localizado na Rua Corrêa Pinto, o prédio existe até hoje. Descendo e entrando na Siqueira Campos, havia o comércio da família Priante, esse ponto pertenceu a meu avô paterno, que comercializou em Óbidos de 1908 a 1918, quando voltou à Itália em definitivo. O nome de sua loja era: Bella Veneza. Em 1921, meu tio Giovanni Priante, reativa a firma com outro nome: La Rinascente, e em l931 chegou meu pai, passando a ser sócios. A firma era representante da cerveja antártica, eles que distribuíam em todo o Baixo Amazonas, assim como os produtos: Dubar, Cigarros Souza Cruz, Tecidos Sta. Izabel e Açúcar das usinas de Pernambuco.
Mais adiante, (onde hoje é o Soter) era o comércio do Sr. Giuseppe, que de muda para São Paulo em 1959, deixou sua cunhada também italiana de nome: Rosa Filizzola. Passando o Sr. Belicha, vinha meu tio Pascoal Savino e agência da Panair do Brasil e do Loyde Brasileiro de meu tio Titilo.
Continuando a Siqueira Campos, havia o comércio de meu primo Bernardino Priante, a seu lado o Sr. Careca e seu sócio José Imbelloni, comercializavam ferragens e panificação.
Entre o Careca e o Sr. Giuseppe Filizzola (Caporal), comerciante de panificação e ferragens, tinha um único francês, Sr.Brelaz - Casa Sadraque.
Perpendicular a Siqueira Campos (Trav. Dr.Machado), encontrava-se o Mercadinho do Povo, do Sr. Carlos Ferrari, pai do Hugo, especializado em tecidos, ferragens e miudezas em geral. Em 1962, foi palco de um dos maiores arrombamentos acontecidos no comércio de Óbidos, aconteceu em uma noite de Natal, levaram mais de trinta cartucheiras de diversos calibres e muita munição, peças de linho e o que foi possível, deixando um grande prejuízo para família Ferrari, nunca prenderam os meliantes.
No igarapé como se chamava antigamente, passando as usinas de juta, havia um comércio de meu tio avô Pasquale Savino, era também proprietário da fazenda Imperial, localizado na costa de Óbidos, do lado de baixo, com seus dez mil metros de frente, além da criação de gado, mantinha um razoável Cacoal, havia também seringueiras, plantadas por um grupo de estrangeiros, que foram seus antigos donos e exploravam o látex.
Nessas citações de europeus, não poderia deixar de lado os sacerdotes franciscanos, todos de origem alemã, que se dedicaram ao extremo para o engrandecimento de Óbidos, sob o comando de um dos maiores sacerdotes que conheci que foi Dom Floriano Lowenau.
Portanto, essas pessoas que deixaram seus países, para dedicar-se ao trabalho em nossa cidade, contribuíram bastante para seu desenvolvimento, gerando empregos, sempre empregando seus lucros na própria cidade, tanto é verdade, que seus últimos dias foram passados em Óbidos e seus corpos repousam no cemitério obidense.
Em virtude dessa dedicação, sugiro que as autoridades locais fizessem uma homenagem a essas três raças, construindo uma praça com um monumento, para perpetuar a presença desse povo que muito contribuiu para o desenvolvimento de Óbidos.
Publicado originalmente em 10 de março de 2010. Fotos de João Canto
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