Haroldo Figueira
Bianca está completando quinze anos. Para ser mais exato, o aniversário ocorreu no último dia 21 de março, hoje acontece a comemoração. Não é a primeira neta a atingir essa importante marca existencial. Antes dela, tive a felicidade de participar das festas de debutantes de Analu, Júlia e Larissa.
Essa sequência de festejos poderia, hipoteticamente, levar alguém a supor que, por assistir pela quarta vez a eventos assemelhados, a circunstância me deixaria menos sensível emocionalmente. Asseguro que não é verdade. A emoção que toma conta de mim é tão grande e intensa como o fora nas oportunidades anteriores.
Quinze anos correspondem a um momento da vida de grandes transformações biológicas e psicológicas para o ser humano de uma maneira geral, mas particularmente simbólico para as pessoas do sexo feminino. Representa, principalmente, o estágio existencial em que a adolescente descobre que deixou a meninice para trás.
Adolescentes nessa faixa etária costumam ficar com a mente em estado de ebulição. É a idade dos voos da imaginação, do “sonhar acordada”, das incertezas, dos temores quanto ao futuro, das inquietudes, da insegurança, das preocupações em relação ao que os outros possam pensar delas, das confidências entre amigas, do hábito vaidoso de a toda hora olhar-se no espelho, do prazer de sentir-se, achar-se e fazer-se bonita, das ilações fantasiosas acerca do amor.
Familiares e pessoas que convivem de perto com elas comumente tardam para atinar com o fato de que a garota que brincava como menina, agia como menina, comportava-se como menina não se sente mais à vontade desempenhando esse papel. Só então se dão conta de que a menina cresceu, de que as formas de seu corpo ficaram mais bem definidas, de que estão diante de uma moça.
Comparo esse rito de passagem com o desabrochar incompleto de uma flor. Enquanto simples botão, não chega a despertar a atenção. Basta, porém, que as pétalas comecem a abrir-se para que se constate que algo belo, novo, delicado e admirável está se desvelando diante dos nossos olhos.
A comparação, convém esclarecer, nada tem de original e nem tampouco foi concebida por mim. A bem da verdade, tomei-a por empréstimo de outras pessoas dotadas de maior capacidade imaginativa, senso estético ou inspiração poética, que já a haviam feito antes.
É o caso, por exemplo, do grande Machado de Assis. Na primeira das estrofes do poema “Menina e Moça” descreve assim a jovem nessa faixa etária: “Está naquela idade inquieta e duvidosa,/Que nem é dia e é já o alvorecer/Entreaberto botão, entrefechada rosa,/ Um pouco de menina, um pouco de mulher.”
Em sua construção poética, o ilustre bardo fala de uma personagem que as vezes confunde quem a observa, deixando dúvidas sobre se quem está agindo é a menina ou é a mulher. É o que se depreende dos versos finais, a saber: “É que esta criatura adorável, divina,/Nem se pode explicar, nem se pode entender,/Procura-se a mulher e encontra-se a menina,/Quer se ver a menina e encontra-se a mulher!”
Sem nenhum demérito para a obra do nosso literato maior, de quem me declaro, solenemente, um ardoroso fã, não consigo enxergar Bianca de outro modo que não seja sob a ótica ou com o perfil inconfundíveis de uma menina-moça. Uma linda, graciosa e encantadora menina-moça.
De toda sorte, como seu avô, amigo e admirador, tudo o que mais desejo para a querida aniversariante é que seja muito feliz. Nesse sentido, formulo preces a Deus para que a cubra de bênçãos e que jamais lhe deixe faltar sabedoria na mente, saúde no corpo, paz na alma e amor no coração.
Parabéns, Bianca! Um beijo do vovô.
Natal, 30 de março de 2019