Jorge Ary Ferreira.
O homem dividiu o mundo em minutos, dias, meses, ano, e a humanidade assimilou de tal forma, que gera uma expectativa a cada época que se aproxima, é o agricultor que espera o período das chuvas, o moleque que espera o mês de julho para empinar seu papagaio, o pescador que espera a piracema, o folião o carnaval. No caso do estudante, isso é evidente nos festejos da semana da pátria, toda a cidade vive o clima antecipadamente com o som das bandas marciais, hoje fanfarras, ensaiando seus ritmos e movimentos para as apresentações da Semana da Pátria.
Iniciei minha vida escolar no ano de 1968, na escola José Tostes, em uma turma de alfabetização que funcionou na casa da Professora Gloria Correa Pinto, na Tv. Osvaldo Cruz, uma vez que o prédio da escola não havia sido concluído a tempo, no ano seguinte fui transferido para o Grupo Escolar José Veríssimo, onde juntei-me a uma geração de colegas, que até hoje fazem parte da minha vida, Otavinho, Jorge Chaves, José Euclides, Evandro Carvalho, Antônio do Bianor, Edinaldo Lira, Eder Moda, Jr. Ferrari, dentre outros tantos, e que grandes amigos nos tornamos. Já em 1969 desfilei na “grade”, mas em 1970 eu sonhava com um taról, afinal de contas eu tinha certeza que batia melhor que o “Magato”, porém um fato muito importante aconteceu na segunda quinzena de junho, mexendo com o ego da nação, o Brasil fervilhava com a conquista do tri-campeonato mundial pela seleção brasileira de futebol, as revistas Manchete e O Cruzeiro, corriam de casa em casa mostrando os momentos vividos por aqueles heróis nacionais, e, na volta das aulas no mês de agosto, após as férias de julho, a escola decidiu que homenagearia a seleção Brasileira de futebol. Imaginem na cabeça de uma criança de nove anos, a euforia que isso causava, era mais quem queria se um Clodoaldo, Jairzinho, Piazza, um Gerson, foi o comentário do mês de agosto inteiro, todos os dias eu, com a incumbência de representar o Rivelino, visitava o Tio Gentil, mestre na arte de confeccionar sapatos, par ver se ele já tinha adiantado a fabricação da minha chuteira, devidamente montada em uma forma nº 36, e isso era geral, terminava a aula, ia aquele grupo de alunos subir a Picanço Diniz no retorno pra casa, só para passar com seu Dico Sapateiro ou Tio Gentil, para ter notícias da sua chuteira, porque a camisa, short as mães daquela época se garantiam em suas máquinas de costuras Singer, e meias se resolvia com aquele fiado no Carlos Simões, vendedor famoso das casas Pernambucanas.
O certo é que com isso, o mês de agosto passou muito rápido, logo chegou o estressado dia do ensaio geral, onde tudo tinha que ser corrigido, era moleque pegando ralho a todo instante, o certo é, que na manhã do dia 07/09/1970, estávamos nós, atrás do pelotão de porta bandeiras, na frente o nosso Carlos Alberto com a taça na mão, representado por Eder Jofre Moda, em seguida os demais jogadores, todos orgulhosos da missão a eles confiada, missão essa que ficou perpetuada na memória de cada aluno que participou, e marcou o melhor sete de setembro da minha vida.
Óbidos Pa., 04/09/2018