O RELÓGIO DA CATEDRAL

O RELÓGIO DA CATEDRAL

Otávio Figueira. 

Na nossa bucólica Óbidos, Pará, dos anos 50 a 70, existiam pouquíssimas opções de divertimento e lazer para a população. Dependendo da faixa etária da rapaziada você poderia optar por festas dançantes, tertúlias nas casas de amigos, jogos de futebol, voleibol, sinuca, baralho, dominó, dama, bingo, enfim, tudo como passatempo.

Não obstante, para a grande maioria dos amantes do lazer e do entretenimento, a Sétima Arte atraía maior público tal à sua importância não só para enriquecer os conhecimentos como também nas películas românticas, em que se “apimentava” bem o relacionamento amoroso dos frequentadores que davam uma escapadinha da vigilância dos pais, para uns “amassos” mais tranquilos no escurinho do cinema.

Entre vários cinemas da época como Cine Trianon, Naomy, Alvorada, Salão Paroquial, ARP e, mais recentemente, Acácia, lembro-me bem de um filme romântico baseado na música de muito sucesso de então, que servia de prefixo musical para várias serenatas: “Relógio”. Confesso, pois, que muita gente foi às lágrimas ao assistir esse filme. Era dor de cotovelo mesmo.

Segundo pesquisa, esse bolero está entre os 10 mais famosos e executados no mundo. Existem duas versões diferentes sobre a sua criação. Em um primeiro instante, dizem que ele foi composto em 1956, quando o cantor e compositor mexicano Roberto Cantoral fazia parte de um Trio musical chamado “Los Tres Caballeros”. O trio realizava uma turnê pelos Estados Unidos e no final de uma apresentação em Washington, Cantoral teve um caso amoroso com uma das garotas que participaram do show e que na manhã seguinte deveria viajar para Nova York. Dizem que Cantoral se apaixonou pala bela garota e que durante o último encontro dos dois, no salão da apresentação existia um grande relógio que chamou a atenção do compositor e o inspirou na letra da música. Um fato relativamente trivial, que se transformou na história de um amor profundo.

A outra versão é uma lenda urbana segundo a qual, Roberto Cantoral compôs a canção em uma noite malfadada e triste, quando os médicos informaram ao compositor que sua esposa, gravemente doente, dificilmente veria a manhã seguinte. Eis, pois, a letra da música em questão:

“Relógio”

Porque não paras relógio
Não me faças padecer
Ela irá para sempre
Breve o sol vai nascer

Não vê, só tenho esta noite
Para viver nosso amor
Teu balançar me recorda
Que sentirei tanta dor

Detém as horas relógio
Pois minha vida se apaga
Ela é a luz que ilumina meu ser
Eu sem seu amor não sou nada

Detém o tempo eu te peço
Faz esta noite perpétua
Prá que meu bem não se afaste de mim
Para que nunca amanheça

No Brasil vários cantores interpretaram esse bolero, entre eles Cauby Peixoto, Adilson Ramos, Altemar Dutra e Trio Irakitan.

A simbologia do relógio, porém, se espraia em várias cidades do Brasil e do mundo.  Em Londres, por exemplo, temos o famoso “Big Ben”. Já em Manaus o monumento “Relógio do Quarenta”, que representa o marco histórico do início da cidade.

Por outro lado, na cidade de Óbidos, mas precisamente em uma das torres da Catedral de Senhora  Sant’Ana, há quatro relógios que, pelo seu simbolismo, também aguça sentimentos de amor, felicidade, alegria, pontualidade, esperança e compaixão de gerações, pois à sua utilidade e precisão são de fundamental importância para o dia a dia do povo como sobreaviso para ir dormir, acordar, tomar remédio, escola, hora de ir para casa, cozinhar, casar, enfim, quando eles não estão funcionando a dependência da ”hora certa” pelos usuários, apesar dos digitais e celulares, é inimaginável.

Portanto, o “Relógio” do bolero que inspirou o filme como o “Relógio da Catedral”, ambos, a meu ver, têm algo em comum: marcam o tempo a critério da necessidade de cada usuário.

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