Otávio Figueira.
Na semana que passou, mas precisamente no dia 28 de julho, partiu para o lado do Pai, aos 76 anos, Renato Cosme Vieira de Barros, conhecido no meio artístico como Renato Barros ou simplesmente o ícone da banda de rock pop mais antiga do mundo em atividade com o nome de Renato e Seus Blue Caps, em que despontou para o sucesso no início dos anos 60 como compositor, vocalista e guitarrista.
Doravante, o chamarei de Renato, nasceu no Rio de Janeiro em 27 de setembro de 1943. Originário de uma família de músicos como os irmãos Ed Wilson e Paulo César Barros, foi exatamente no movimento musical “Jovem Guarda”, com o incremento do estilo iê iê iê, que abriu passagem para o sucesso da banda no cenário artístico brasileiro em que o seu legado se eternizou nos corações de gerações e gerações.
No final dos anos 60, porém, na minha até então pacata cidade de Óbidos, Oeste do Pará, cidade animada e festeira, a garotada da época, entrando na adolescência, não tinha opções de divertimento a não ser a mais comum em qualquer cidade do interior: futebol, cinema e música. À nossa “TV” da época era o rádio de pilha, oito faixas, canal por meio do qual tínhamos conhecimento das novidades do Brasil afora sem esquecer os lançamentos musicais, pois de política a gurizada não queria saber até porque era o Regime Militar que imperava e os assuntos pertinentes ficava com nossos pais em bate-papo principalmente no Bar Andrade.
No embalo, entretanto, dessa onda, eis que surge em Óbidos o conjunto musical “Os Relicários”, criação de um funcionário do Banco do Brasil, recém-chegado na cidade, procedente de Belém, de nome Ricardo Soares Filho (Cri Cri), que, com seu espírito festeiro e divertido em vários aspectos, revolucionou o mercado musical no Baixo Amazonas em se tratando de festa dançante. Foi brasa! Mora!
Na esteira, pois, desse movimento musical, influenciado pelos sucessos de Renato no repertório dos “Relicários”, aflora na mente visionária do amigo Max Hamoy a ideia de formar um conjunto musical de adolescentes. Em conversa comigo, meu irmão Eduardo e o Ariosto Dias, achamos a iniciativa legal, porém, totalmente fora da realidade. Um sonho! Perguntávamos entre nós: “Com que dinheiro?!” Mas, no fundo, sabíamos que o Max era um cara ousado, corajoso e determinado. Tanto é verdade que fez muito por Óbidos na área do entretenimento e até hoje tem um programa de rádio direto dos EUA. O certo é que seu Isaac Hamoy, grande empresário à época, pai do Max, também festeiro e de alto astral, em uma de suas viagens para o sul do país, acredito que foi a pedido do Max, trouxe uma mini bateria com todos os acessórios pertinentes. Aí a coisa ficou mais fácil. Fomos, então, até o saudoso carpinteiro Luiz (Sapo) que confeccionou, a pedido do Max, é claro, a guitarra e o contra baixo.
Finalmente, começamos os ensaios e definimos o nome do conjunto “Os Terríveis”, em homenagem ao sucesso musical do Rei Roberto Carlos ( Eu sou terrível, é bom parar..., lembram?) inserido no seu LP (vinil) “ Ritmo de Aventuras”, nome também dado ao filme do Roberto. A composição original do conjunto: Ariosto (croner), Max (bateria), Eduardo (baixo) e Otávio (guitarra e vocal).
Nossa cidade, por si só, festeira e repleta de mulheres bonitas e dançarinas, no ritmo da moda “pantalona”, calça boca de sino de tergal, camisa volta ao mundo, era o chamariz de grupos musicais de outras cidades, cantores e shows. Existia, contudo, show de calouros locais nas manhãs de domingo. Salão Paroquial lotado. Recordo-me que Ana Maria Ramos, Marlene Costa (Curica) e Ademir Ramos se revezavam nas vitórias dos melhores intérpretes.
Exatamente no dia 12 de maio de 1968, domingo, pela manhã, o conjunto musical “Os Terríveis”, foi convidado para o encerramento das festividades do “Dia das Mães” no Salão Paroquial com casa cheia de alunos e familiares, pois era lá que todas as escolas se reuniam a fim de comemorar essa grandiosa data. Fechamos, então, o evento com duas músicas do Renato: “Não Me Diga Adeus” e “Meu Bem Não Me Quer”. Todos dançaram felizes!
Portanto, Renato vai deixar saudades há varias gerações que enamoraram, casaram e tiveram seus filhos “viajando” na excitação de suas belas e apaixonadas músicas. São momentos que não voltam mais, no entanto, ficaram marcados na história de cada fã e admirador como um bálsamo para seguir em frente. Enfim, não me diga adeus, pois não te esquecerei até o fim.
Manaus/Am, 02 de agosto de 2020