João Augusto de Oliveira*.
A Amazônia já foi muitas vezes “convocada” e “desafiada” para algumas missões pela Pátria.
Vejamos:
A construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, foi uma verdadeira epopéia na então impenetrável selva. Estima-se que para cada dormente assentado, 05 homens tenham morridos vitimados pela febre amarela e malária, controlada quando da vinda de Osvaldo Cruz, para in-loco tomar medidas sanitárias urgentes. A meta dos idealizadores, vindo de longe, era fazer o escoamento de nossas riquezas naturais, sempre elas, pelo Pacífico, atravessando o Peru.
A extração do rico e estratégico látex das nossas seringueiras, indispensável ao preparo bélico das nações envolvidas nos grandes conflitos mundiais, foi outra demonstração de heroísmo do amazônida e do nordestino, expostos a toda sorte de dificuldades, entraram mato adentro e, pagando com a própria vida, foi satisfeita a vontade dos “magnatas”. Aliás, projetos do governo e de megalomaníacos para a Amazônia, foram tantos, a custa do sacrifício do povo, com a cessão de enormes áreas de terras, isenções fiscais, subsídios, franquias alfandegárias, etc. Se tudo fosse relatado, teríamos grande compêndio da nossa história.
Lembremos os mais “arrojados”: Fordlândia, Belterra, Núcleo Tomé Açu, Jarí (Ludwig), Estrada Perimetral Norte (do Amapá até a Venezuela, interligando todo o lado esquerdo do Rio Amazonas), são alguns.
E os protocolos de “intenções” firmados com aquela ex-estatal, cujas letras invertidas lê-se LEVA?
Ótimo para seus donos, mas para os paraenses, só resta mesmo (antes de exaurir), o título pomposo de Primeira Província Mineral do Brasil.
Na pauta fiscal do Pará (base para cálculo de impostos) observa-se no passado quanto significou para nós o extrativismo da castanha do Pará (hoje do Brasil), das resinas e das sementes oleaginosas.
Sem política de governo e os produtores (ou coletores) entregues à própria sorte, acabaram por cessar suas atividades, sem, contudo, deixar de registrar a tristeza e indignação que nos envolve, sobretudo pela derrubada criminosa de castanhais inteiros, objetos da cobiça de muitos, sequiosos em arrancar o máximo de lucro da natureza e do solo da Amazônia.
Porque não lembrar “anos d’ouro” vividos pelas populações ribeirinhas, quando da cultura da juta nas várzeas e da malva no sertão, que propiciaram renda significativa para os bravos “juticultores”?
Como sempre, aqui nada foi feito para transformar a região em palco produtivo perene com a agregação de valores. Não passamos de tímidos passos no setor de alguma sacaria, logo suplantada por setores avançados não só na técnica, como com forte capital subsidiado e surgimento de poderosos concorrentes de outras matérias primas e maciça importação de fibras. Pode?
E o que vimos? As populações rurais, com mais esta débâcle, se transferiram para os centros urbanos, sob os falsos acordes do canto da sereia, onde passaram a formar fileira dos excluídos urbanos.
Por tudo isto e muito mais a abordar, nós, caboclos da Amazônia, estamos com fome de uma política desenvolvimentista real e definitiva, cessando assim estes permanentes experimentos, que nos fazem afundar no mundo das ilusões, somente superadas pelo desejo ardente, revivido com o sonho da sociedade fraterna e feliz que tanto perseguimos, como povo valente, que tem nome, sobrenome e endereço: Residente Rio Abaixo, Bairro dos Sonhos, cujo CEP nos dá as iniciais de Contra Esta Política, só do leva.
*Membro da Academia Paraense de Letras -APL - Cadeira n° 30