Haroldo Figueira
Neste 05 de dezembro, Nazaré e eu, completamos 50 anos de casados. Trata-se de uma data muito importante para nós, pois coroa um relacionamento matrimonial que sobreviveu ao desgaste do tempo, feito que, convenhamos, já não costuma acontecer com a regularidade de outrora. A longevidade da relação passou a exigir dos envolvidos altas doses de tolerância mútua, de respeito às diferenças individuais, de concessões de parte a parte, de renúncias bilaterais e, naturalmente, da presença forte do amor.
Em épocas normais, o evento ensejaria uma bela e concorrida comemoração social, com a presença de familiares e amigos. Diante das circunstâncias sanitárias da atualidade, porém, com o bom senso e as autoridades a desaconselhar ajuntamentos de pessoas, temos de nos contentar com uma celebração íntima, com a participação apenas virtual daqueles que nos são caros.
Minha intenção inicial era falar mais sobre o evento de nossas bodas de ouro, com ênfase na trajetória percorrida até o momento atual. Mudei de ideia, porém, optando por uma narrativa mais sucinta, ao perceber que, assemelhada a de tantas outras uniões duradouras que subsistem por aí, nossa história de vida não tem nada de extraordinário para contar.
E como foi esse trajeto? Tranquilo? Sem contratempos? Certamente que não. No curso da existência nem tudo é plano, fluido, tendente ao sucesso. Há vitórias, sim, mas também, perdas, turbulências, imprevistos, pedras de tropeço, erros, necessidades de correção de rumos e de recomeços. Felizmente, no nosso caso, nada que a conjugação de esforços, o amor, a fé no poder do Alto - e até um pouco de sorte - não tenha nos auxiliado a superar.
Aprendemos que os momentos ruins pelos quais passamos pertencem ao pretérito. Não faz bem para a saúde emocional ressuscitar sofrimentos e provações ou remoer mágoas por dissabores e desacertos havidos. Já o que ocorreu de bom merece um lugar especial na memória, para ser lembrado com carinho de vez em quando.
O fundamental é que nossos laços matrimoniais resistiram, mantiveram-se firmes. Permanecerão assim até quando? Bom, espero que por muito tempo mais, embora não me arisque a palpitar sobre o porvir, em observância à máxima consagrada pela sabedoria popular: “o futuro a Deus pertence”.
Tudo começou nos tradicionais volteios da Praça de Sant’Ana, em Óbidos, após a missa dominical na igreja matriz, em uma noite de março dos longínquos e agitados idos de 1965. A bonita e charmosa morena, no esplendor dos seus 16 anos, passou diante do banco à margem da pista onde me encontrava despertando em mim irresistível atração. Parti para a conquista, no que fui bem-sucedido.
Sem me dar conta, aquilo que iniciou como um namoro despretensioso foi fincando raízes, evoluindo para um compromisso mais sério, até resultar em casamento. E aqui estamos nós, ainda juntos, de cabelos brancos, exibindo no visual e no corpo as marcas do transcorrer do tempo, mas felizes por continuar unidos, tocando o barco adiante, satisfeitos com o que conseguimos realizar em parceria.
Agradecimentos? Muitos. A Deus, em primeiro lugar, senhor da existência e arquiteto dos destinos. Em seguida a ela, minha consorte, pela paciência, pelo devotamento, pela mão e ombro acolhedores, pelo apoio, pela lealdade, pela disposição para dividir sonhos, alegrias, conquistas e reveses comigo. Sou-lhe grato, também, pelo companheirismo, pela cumplicidade, pela solidariedade e, principalmente, pelo lar e pela família linda que me ajudou a construir, composta de quatro diletos filhos que, por sua vez, nos presentearam com onze maravilhosos netos.
Valeu a pena tê-la do meu lado? Sem nenhuma sombra de dúvida. Tanto que se me fosse dada a oportunidade de um novo recomeço, faria tudo exatamente do mesmo jeito. Tenho, por fim, algumas palavras a dirigir à minha esposa. Na realidade, uma confissão que faço do fundo do coração: - Naza, querida, você foi e continuará a ser o grande amor da minha vida.
Natal, 05 de dezembro de 2020.