Dino Priante.
São fenômenos da natureza que ocorrem anualmente nos grandes rios da Amazônia, devido ao descongelamento dos Andes e pelas grandes chuvas que ocorrem no período de dezembro a maio. Quando residia em Óbidos, esse fenômeno preocupava bastante os criadores de gado e plantadores de juta. Os primeiros sinais que o rio estava enchendo, eram as touças de capim que desciam o rio, devido à queda dos barrancos. O ajuntamento desse vegetal, dá-se o nome de matupá, que nos igarapés, formam-se as tapagens, impedindo a navegabilidade das embarcações e quase sempre o capim trança nas hélices e lemes desses meios de transporte.
Os criadores de gado naquela época tinham poucos terrenos de terra firma. Lembro-me na minha infância, que o fazendeiro contava a meu pai, que tinha que fazer a maromba, para manter o gado isolado das águas e ainda alimentá-lo cortando o capim. Eu ouvia essa conversa, e me questionava; porque esses fazendeiros não trazem esses rebanhos, para as terras firmes de Óbidos, onde não há enchentes. Na ingenuidade dos meus sete anos, estava certíssimo, pois nos meados dos anos sessenta, os fazendeiros começaram a adquirir terras firmes para o lado do Cipoal, Canta Galo, Curuçambá; hoje à maioria dos criadores de gado tem suas terras firmes.
Os terrenos localizados no rio Parú próxima à cidade, afluente do Rio Amazonas, qualquer enchente mete no fundo, eram os primeiros fazendeiros a tomarem essas providências, para proteção dos rebanhos.
No caso dos plantadores de jutas, as áreas escolhidas para o plantio eram baseadas nas últimas enchentes, porque quando chegassem à época do corte, as águas estariam próximas à plantação, diminuindo o trabalho do plantador. Agora quando a cheia era grande, acabava com o jutal.
Todo esse trabalho era fomentado pela agência do Banco do Brasil, que financiava o agricultor ou pelos grandes exportadores de jutas da região, que financiavam os produtores e esses lhes pagavam com a colheita da fibra.
A juta movimentou bastante a economia do baixo amazonas, nas décadas de cinquenta e sessenta, principalmente em nossa querida Óbidos. Havia quatro prensas de juta, como: Caiba, Cia Paulista de Aniagem, Usina Paraense e Usina Pérola. Tinha época que ficavam de dois a três Loides, aguardando para embarcarem a juta prensada que era exportada.
Nós, moradores urbanos, não sentíamos os danos que uma cheia grande apresentava, obviamente que o comércio era afetado nas vendas, e a inadimplência bancária aumentava, normalmente o banco refinanciava o agricultor. Nos quinze anos que tive residência fixa em Óbidos, nunca vi o nível das águas, ultrapassarem o caís. Nesses últimos quarenta anos já deve ter ocorrido umas seis vezes, e no ano de 2009, pelos dados que vimos, foi a maior cheia dos últimos 106 anos. Uma das poucas vantagens que as cheias trazem, são as adubagens naturais das terras, assim como aumento da quantidade de peixes, geralmente após grandes enchentes, se pescam muitos jaraquis. A garotada também curtia um bom banho no caís, em frente à loja do Sr. Cornélio Santos, principalmente logo após a construção, isto porque a escada de acesso à praia não apresentava limo, era como se fosse uma piscina natural.
Com as grandes cheias, nossos ribeirinhos são os que mais sofrem, porque é seis meses debaixo d’água. No centro comercial, nossos lojistas da principal rua do comércio de Óbidos que é a Siqueira Campos, o piso das lojas, ficam submerso, moradores dos arredores do laguinho e ruas próximas ao rio, também padecem. Acho que vamos ter que nos adaptar com cotas maiores nas cheias dos rios da Amazônia, devido às agressões a natureza praticada pelo homem, ocasionando as grandes enchentes.
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