Por João Canto.
Na quinta-feira, dia 24 de janeiro de 2019, o escritor Ildefonso Guimarães completaria 100 anos de nascimento. Nasceu em Santarém, mas viveu grande parte de sua vida em Óbidos, por quem os obidenses têm uma admiração incomensurável.
Para homenageá-lo, estamos postando a matéria seguinte, numa forma de relembrar as suas obras, nas quais escreveu páginas verdadeiramente preciosas para a literatura paraense.
Em setembro de 2011 a Fundação Tancredo Neves lançou o Selo e Livro de Ildefonso Guimarães, “Crônicas de Rua”, evento este que fizemos a seguinte matéria, que atualizamos justamente para homenagear este importante escritor paraense.
Com o Auditório Pará, no HANGAR, totalmente lotado, aconteceu no sábado, dia 11 de setembro de 2011, em Belém do Pará, o lançamento do Selo Literário Ildefonso Guimarães e de seu livro “Crônicas de Rua: Memória de um Repórter de Polícia”.
Durante a cerimônia João de Jesus Paz Loureiro e Nilson Chaves falaram da importância do Selo para os escritores do Pará, da obra e da forma literária refinada com que Ildefonso escreveu suas obras. Loureiro comentou: “A grande maioria dos escritores paraenses vem do interior, como Ildefonso, trazendo consigo a cultura interiorana que enriquecem ainda mais a literatura paraense”.
Seu filho, Ildefonso Guimarães Filho, discorreu sobre a obra do pai, da sua dedicação à literatura, do tempo em que viveu em Óbidos, do reconhecimento que estava recebendo dando nome ao Selo e agradeceu às pessoas que contribuíram para o lançamento do Livro.
O Selo
A Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves através do selo literário Ildefonso Guimarães, procura estimular a leitura e produção literária, prestando homenagem a um dos maiores expoentes da literatura paraense.
Os livros
“Senda Bruta”
O livro “Senda Bruta” teve a 1ª edição lançada em 1965. “Senda Bruta”, é um livro de conto que ganhou o prêmio Samuel Mac Dowell do governo do Estado do Pará, promovido pela Academia Paraense de Letras. A capa é do arquiteto paraense Roberto De La Rocque Soares e a edição da gráfica Falangola Editora. Ildefonso Guimarães, paraense, “de Óbidos”, já havia lançado em 1961, o livro de contos “História Sobre o Vulgar” e o “Senda Bruta” anota: – incluiu-se neste caderno, por marcar o início desta série de trabalhos do autor, o conto “A Linha Curva”, constante da 1ª edição de Histórias sobre o Vulgar. (Nicodemos Sena)
“Os Dias Recurvos”
“Os Dias Recurvos”, que o autor enfatiza: “à ação deste livro – que não pretende ser um romance mas um relato – deu-se, contudo, o tratamento de ficção, por ser esse o meio de expressão literária em que o seu autor encontrou o caminho mais fácil de comunicação com seus possíveis leitores...”
“Os Dias Recurvos” a preocupação histórica do autor é, antes de mais nada, um indagar estético. É um romance histórico pleno de magia. Nisso Ildefonso Guimarães unifica teorias críticas às menos afins, de Heidegger e Likács, no sentido de que se pode chegar ao conhecimento através da arte. (Alcyr Castro)
“Sobras do Entardecer”
Livro de crônicas e pequenos contos que reúne lembranças da vida do autor e fazem um relato histórico do seu tempo vivido em Óbidos-Pará, entre elas destacamos: “Óbidos do meu tempo, I, II,III e IV”; “Óbidos revisitada”, “A Rua da Beira”, “O Velho trapiche”, entre outra.
“Quem viveu em Óbidos na primeira metade deste século, pelo menos à década dos anos 40, não pode desligar a imagem da cidade de anterior trapiche, que ficava fronteiro à Av. Dr. Correia Pinto, mais conhecida no meu tempo como Ladeira do Cai-Cai. Confrontava também o Mercado Municipal (este, por certo, ainda existente), mandado construí exatamente pelo Dr. Augusto Correa Pinto, quando intendente de Óbidos, década de 20”, do conto “O velho trapiche”.
“Crônicas de Rua”
Segundo apresentação feita durante o lançamento, o livro, “Crônicas de Rua”, tem como ponto de partida fatos do cotidiano da cidade de Belém, no período que vai do final da década de 40 à década de 80, onde são resgatados fatos deste período.
Ildefonso Guimarães dá aos acontecimentos um lirismo sem igual, constituindo às crônicas curtas uma mistura de suspense, humor e lições de vida. Criando personagens a partir da realidade, dando aos tipos sociais vida plena, criticando valores, costumes e os mais diversos comportamentos.
Constrói um retrato de Belém de outros tempos, que nos remete a narrativa de Dalcídio Jurandir em “Belém do Grão Pará” ou de Machado de Assis em seus “Contos Fluminenses” descrevendo o Rio de Janeiro e Jorge Amado a Bahia em seus romances. Não é nenhum exagero afirmar a competência em construir narrativas breves e de uma densidade profunda, preocupado no texto em deixar ao leitor sempre uma mensagem propositiva, apesar de narrar “crimes” dessa época.
Outro aspecto marcante na obra é o recurso usado pelo autor da intertextualidade. Ildefonso Guimarães faz uma retomada a grandes mestres da literatura, dando a sua obra um elo entre o regional e o universal, partindo de situações locais como o caso de um falso cristão que roubava as esmolas doadas à igreja, para refletir como o leitor a sua condição ética e moral.
Com uma capacidade ímpar no uso da linguagem, Ildefonso recria situações que estão presentes em sua memória de “repórter de polícia”, usando o fluxo da memória de forma alinear, constituindo narrativas em estruturas psicológicas, prendendo o leitor a cada parágrafo do texto, fazendo com que o mesmo não deixe de chagar ao seu final na expectativa do desfecho de cada história.
A modernidade se faz presente na obra de Ildefonso Guimarães, com uma temática do cotidiano de uma cidade em transformação, com uma linguagem criativa, passando por diversos níveis de elaboração, desde o erudito ao popular, conseguindo dar à temática regional, uma dimensão de valores universal, em qualquer lugar ou qualquer pessoa, de qualquer idade, se identificará com as “Crônicas de Rua”, com seus personagens, seus conflitos, seus dilemas e acima de tudo, com a felicidade das mensagens aprendidas em cada experiência de vida por todos aqueles que compõe estas crônicas, pois são na verdade parte de um todo que formamos e que somos, com nosso vícios e virtudes, em síntese, Ildefonso resume nesta obra a essência do comportamento humano, ou como ele escreve “isto é uma questão de idiossincrasia”.
Ildefonso Guimarães
Por fim o lirismo, tão presente no gênero poético, aparece de forma maestral em um livro de crônicas, só um escritor com grande genialidade no uso da palavra, é capaz de transformar temas relacionados ao sofrimento como: a prisão, o delito, o desvio de comportamento, em algo lírico, belo e alentador no ato da leitura.
“Quem em seu senso próprio dirá que a vida não tem seus ires e vires”. (Ildefonso Guimarães – Crônicas de Rua)
“Quando tudo é quietude e corre cinzento o senso da gente, embolorando a alma e pondo tentares sombrios na vida da pessoa”. (Ildefonso Guimarães – Crônicas de Rua)
Sem dúvida esta obra ficará marcada na história da literatura do Pará. (Bella Pinto).
O Autor
Ildefonso Guimarães é natural de Santarém e passou a maior parte de sua vida em Óbidos, cidade que era a principal inspiração de suas crônicas, romances e contos. Trabalhou como jornalista, venceu vários concursos literários nacionais. Ildefonso Guimarães foi membro da Academia Paraense de Letras desde 1966. Publicou os seguintes livros: "História sobre o vulgar" (1961), "Senda bruta" (1963), "Os dias recurvos" (1984), “Contos Recontado” (1990). “Sombras do Entardecer” (2004). Crônicas de Rua (2011). Faleceu e 2004 aos 85 anos, este ano completaria 100 anos.
*João Canto: Professor, mestre em Educação, informática e fotógrafo.
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