Por Fernando Canto.
Nestes 200 anos da Independência do Brasil algumas histórias, fatos e singularidades ocorreram para além dos eventos políticos em diferentes regiões do país. O Amapá, com sua longa diversidade também teve suas tragédias e festas, seus ritos e crenças que fortaleceram a identidade do povo.
Muitas dessas histórias foram contadas aos pés das árvores frutíferas plantadas nos quintais das mulheres afrodescendentes, aquelas que cantam "ladrões" nas rodas de Marabaixo e do Batuque, pois elas vivem nos lugares mais longínquos do território amapaense e trazem em sua força da tradição como sua herança, e a beleza dos rituais, resultados do encontro com o outro e que caracterizam a nossa cultura.
Desde os tempos da Colônia muitos trouxeram as marcas de sangue e sacrifício nas costas na dramática colonização e na construção da Fortaleza de São José de Macapá, onde índios capturados, negros escravizados e brancos degredados trabalharam sob o estalo do chicote dos soldados portugueses. Por isso nossa histórla tem que ser contada de outra ótica.
Tem que ser reinterpretada pela voz necessária da inclusão e da liberdade de pensamento em várias temporalidades possíveis, reconhecendo que a Independência também deve trazer na ponta da espada a experiência de muitas lutas populares na Amazônia que alargaram caminhos da nossa história, para termos a certeza de que nada foi em vão.
As incontáveis dificuldades enfrentadas da Colônia aos tempos de Território Federal, tornaram invisíveis nossa gente e nossa história, no entanto, elas fizeram brotar o es ito de luta e a coragem para que pudéssemos sair do isolamento tecnológico e realizar trabalhos para não perder a fé e a esperança na integração com os centros mais avançados do Brasil.
Que o bicentenário da Independência também seja uma forma de resgatarmos nossas memórias por meio da oralidade que ainda permanece viva na voz dos castanheiros, parteiras, quilombolas e ribeirinhos do nosso Estado ou através de novos projetos de estudos e pesquisas que possam ser compartilhadas democraticamente com todas as comunidades, no pleno trabalho dos museus sempre ao serviço da sociedade. Que a Primavera dos Museus sirva para fomentar a diversidade e a sustentabilidade e expor nossos patrimônios sob a luz intensa do sol do equador, entre os equinócios e solstícios que equilibram a vida.
SERVIÇOS:
MARABAIXO: Um passeio na história através da arte
Data: De 19 a 23 de setembro de 2022
Local: Museu de Arqueologia e Etnologia do Amapá - MAE
Macapá - Amapá
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