Agraciada com o I PREMIO FECIMA DE PERSONALIDADE DA CULTURA OBIDENSE, Edithe Carvalho Vieira, nascida em 1940, fez nessa madrugada (11.10.2017) sua jornada rumo aos campos elísios.
Sua vocação para a literatura
Ela descobriu cedo sua vocação para poesia e literatura, quando aos 12 anos publicara um livreto de contos intitulado “Limão, Limãozinho”. Formada em Letras e Literatura, a escritora, poetisa e professora publica Amazônia: contos, lendas, ritos e mitos, sua obra de maior relevância, em 2010. Edith Carvalho também publicou Histórias para minhas netas (2011) e Reminiscências da Óbidos que conheci (2014). Suas coletâneas de poesias e contos sobre a vida comum amazônida surpreendem pela simplicidade e rigor estético, transportando o leitor pelos espaços da realidade e do imaginário. Sobre seu trabalho de maior expressão, Amazônia: contos, lendas, ritos e mitos, ela afirma:
"Como calar diante da sabedoria tamanha de nossos irmãos caboclos, ribeirinhos, centreiros, que no seu dia a dia nos oferecem a graça de conhecimentos aprendidos duramente no universo de matas, florestas, campos gerais, rios, igapós e igarapés, e também nas bancas de curandeirismos e nas conversas de comadres que levam roupas nas pontes; no companheirismo de pescadores, caçadores, lavradores; nos puxiruns e nas caçadas? Como calar e não registrar, enquanto é tempo, as lições desses ‘professores natos’, respeitadores das crenças, dos ditos populares, das superstições e religiosidades, das misturas de alimentos...? (2010:CC)
Edithe Carvalho apresenta em seus textos uma série de simbolismos. Considerando os aspectos folclóricos, o realismo da escrita convida o leitor a permanecer mergulhado no universo da Amazônia. Ela resgata crendices como o Caixão da Bacuri, a Bola de Fogo, Visagens dos Casarões, Visagem do Murmúrio, Mulher de Branco e diversas lendas, contos e fábulas com personagens vivos na memória amazônida, pavor de crianças, e espanto e gargalhada de adultos acostumados a enfrentar o medo do mistério com risos. A atividade literária de Edithe Carvalho parece seguir a de Inglês de Sousa, teimoso em apresentar o jeito caboclo amazônida, suas crenças e superstições, e sua lida diária no meio da floresta.
Nos últimos anos, Edithe Carvalho vinha lutando em Santarém contra uma enfermidade para manter-se entre nós. Mas, as forças divinas acharam por bem que ela fizesse a recompensadora viagem para o Descanso Eterno. Com 76 anos, Edithe Carvalho vai deixar saudades e memórias entre todos que a conheceram. Seu trejeito quilombola, sua astúcia em insistir na condição cultural de uma população apaixonada pela cultura, suas contações de história, suas reminiscências... tudo se transforma agora em um grande Memorial da Vida de quem se doou sem medir esforços para que a vida na sua mais pura essência pudesse ganhar a estética da simplicidade e da sensibilidade no coração da Amazônia, em pleno Estreito enlarguecido para correr as lágrimas de carinho.
Edithe, você apostou seus sonhos nos seus filhos e admiradores... e seus sonhos já se tornaram nossa realidade e nossos sonhos... Descanse na Paz.
Coordenação do FECIMA