Hidratação frequente é principal ferramenta de prevenção, destaca fonoaudiólogo
Do primeiro choro ao aprendizado das palavras, a voz é uma ferramenta essencial de comunicação, expressão e identidade. No entanto, mesmo sendo tão presente, raramente é colocada como prioridade quando se trata de cuidados com a saúde. Nesta quarta-feira (16), Dia Mundial da Voz, o fonoaudiólogo e coordenador do curso de Fonoaudiologia da UNAMA Santarém, Michael Sabino, alerta para hábitos comuns que podem comprometer a saúde vocal e levar a problemas graves.
1. Falar em excesso, sem pausas e sem hidratação
“Esses são os maiores vilões da saúde vocal”, alerta Sabino. Ele explica que as pregas vocais precisam estar bem lubrificadas para vibrarem com leveza. Quando a hidratação é insuficiente, ocorre o ressecamento, tornando a vibração mais pesada e cansativa. Isso pode levar à fadiga vocal e até ao surgimento de lesões.
"O ideal é sempre carregar uma garrafinha de água, principalmente em lugares quentes”, orienta o especialista. Café, refrigerante e suco não substituem a hidratação verdadeira. “Não adianta achar que um copo de café resolve. A voz precisa de água”.
2. Falar alto em ambientes barulhentos
Sabino explica que, ao tentar conversar em locais ruidosos, o esforço vocal aumenta consideravelmente. “Ao elevar o volume da voz para competir com o som do ambiente, as pregas vocais são forçadas além do necessário”, alerta. Essa prática pode causar sobrecarga e levar a quadros de fadiga vocal.
A solução, segundo ele, é simples. “Aproxime-se da pessoa com quem está falando, articule melhor as palavras e evite disputar com o ruído ambiente.” Para contextos profissionais, ele recomenda o uso de microfone ou amplificação sonora.
3. Tossir e pigarrear constantemente
Apesar de parecer um ato inofensivo, pigarrear repetidamente pode ser agressivo às pregas vocais. “É como dar pequenos tapas nelas o tempo todo”, compara Sabino. Com o tempo, essa irritação pode favorecer o surgimento de lesões, como os nódulos vocais.
“Quando sentir vontade de pigarrear, tente primeiro engolir saliva ou beber um gole de água”, sugere o especialista. Outra técnica eficaz é realizar uma leve vibração com os lábios, emitindo o som de “brrrr”. Caso a sensação seja persistente, ele recomenda buscar avaliação com um fonoaudiólogo e um otorrinolaringologista.
4. Ficar muito tempo em ambientes com ar-condicionado
O ar-condicionado pode ser um aliado contra o calor, mas é um vilão para a saúde vocal. “Ele resseca o ambiente e, com isso, as vias respiratórias e as pregas vocais”, explica Sabino. Isso prejudica a vibração natural da voz e pode levar a quadros de fadiga vocal.
Para minimizar os efeitos negativos, ele sugere aumentar a ingestão de água e, sempre que possível, utilizar um umidificador de ar ou recorrer a soluções caseiras, como bacia com água ou toalha molhada no ambiente. “A nebulização com soro fisiológico também ajuda muito, mas deve ser feita com orientação profissional”.
5. O desgaste vocal de professores e profissionais que usam a voz intensamente
Segundo Sabino, professores estão entre os profissionais que mais buscam atendimento fonoaudiológico para reabilitação vocal. “Eles usam a voz intensamente, por horas seguidas, muitas vezes em ambientes barulhentos e sem recursos de amplificação”, destaca. As queixas mais comuns são rouquidão, cansaço ao fim do dia, dor ao falar e perda de projeção vocal.
“Hidrate-se ao longo do dia, inclusive dentro da sala de aula. Use microfone sempre que possível, mesmo com turmas menores. Faça pausas vocais e evite gritar”, reforça o especialista. Além disso, ele recomenda a inclusão de exercícios vocais antes e depois das aulas.
Caso a voz apresente sintomas persistentes, como rouquidão, falhas frequentes ou desconforto ao falar, Sabino orienta procurar um especialista. “Alterações vocais contínuas nunca devem ser ignoradas. Buscar avaliação com um fonoaudiólogo é o primeiro passo para cuidar da saúde vocal e prevenir problemas futuros”, conclui.
Por: Henrique Britto