DINO PRIANTE.
Nos primeiros sinais da vazante ou paralisação da enchente, já observávamos os primeiros cardumes deste delicioso peixe da Amazônia. O jaraqui, da família dos caracídeos, cujo nome cientifico é: Semaprochilodus insignis (escama grossa) e S. taeniurus (escama fina), eles são ilófagos (alimentam-se de substrato pôr lodo ou areia), quando adulto atingem em média de vinte a vinte e cinco centímetros , pesam trezentos a quatrocentos gramas.
Lembro-me na minha infância em Óbidos, que o dia primeiro de maio, exatamente no dia do trabalho, já começávamos a saboreá-lo. A piracema se estende até final do mês de junho, principio de julho. Para se comer, sem o risco de engolirmos espinhas, devemos retalhá-los, facilitando a degustação. É um peixe que se come, de diversas maneiras: assado, cozido, frito, e conforme a inspiração do cozinheiro.
No período da piracema, íamos ao trapiche "novo", como chamávamos na época, observar nossos pescadores urbanos, jogarem suas tarrafas, e quando percebiam que haviam acertado em cheio o cardume, gritavam suas frases características, “pega o resto, pega o resto” – “Vai cutucando, vai cutucando” e outras que são impublicáveis. Recordo-me bem, do "Cubano" já falecido (filho do Sr. Galúcio), dos meus primos Pascoal, Francisco e Wilton Savino, Fileto e muitos outros.
No rio Amazonas, em frente à Óbidos, ficava tomado de pescadores, com suas canoas e tarrafas, uma modalidade de pesca menos predatória. Infelizmente hoje, os pescadores utilizam as malhadeiras, tornando-se mais eficiente a pescaria, em contrapartida, dizimando a espécie.
No pico da abundância do jaraqui, era vendido na moeda de hoje, o equivalente a cem unidades pôr um real, alguns pescadores, até doavam para os mais necessitados. Às vezes, em algumas rodadas de amigos, quando o papo é pescaria, falo que pegávamos jaraquis com as mãos, explico: ao lado esquerdo do trapiche, ou seja, do lado do Paturi, formava-se aquele matupá, (amontoado de capim sobre as águas) quando os cardumes vinham naquela direção, alguns peixes, batiam e saltavam para a camada espessa de capim, e nós garotos, que estávamos sempre por lá, pulávamos para apanhá-los. Parece até história do "mata onça".
Após o manuseio ou as refeições do jaraqui, tínhamos o cuidado de lavarmos bem as mãos, apesar da falta de água nas torneiras, problema esse, que perdura até os dias de hoje. Mesmo assim, nas salas de aulas, igrejas, cinemas ou qualquer lugar que houvesse reunião de pessoas, exalava aquele "pitiú” (odor característico dos peixes). E mesmo, o ar estava poluído com esse odor, em virtude dos assados que eram feitos nas residências das famílias obidenses. O pessoal adolescente, que ía namorar após o jantar, tinha um maior cuidado na higiene, sempre passava um bom perfume da Avon, ou os importados, comprados a bordo dos navios estrangeiros, que aportava em Óbidos.
Salvo engano, em 1987, foi organizado, o I Festival do Jaraqui em Óbidos, uma promoção da Associação Cultural Obidense (ACOB), com apoio da Prefeitura Municipal, que é feito anualmente, sempre no mês de junho. Hoje faz parte do calendário turístico obidense. Neste ano será realizado nos dias 2 e 3 de Junho.
Em Manaus, capital do vizinho estado do Amazonas, onde o jaraqui é apreciado, tem um ditado que diz: comeu jaraqui, não sai, mas daqui.
Em conversa com amigos, sempre digo: a nossa cidade é uma das mais fartas em peixe, no baixo amazonas, não só jaraqui, mas: Tambaqui, tucunaré, pescada, pacú, e outros mais. Agora precisamos preservá-los, e os órgãos responsáveis devem fiscalizar melhor, para evitar a pesca predatória e a possível exterminação das espécies, para que nossos filhos e netos possam aproveitar desse privilégio.