NEM O TEMPO CONSEGUE APAGAR

NEM O TEMPO CONSEGUE APAGAR

Por Otávio Figueira.

Nascido em uma minúscula cidade do interior do Pará, minha querida Óbidos, conhecida mundialmente segundo os livros de Geografia Geral, por sua localização que assenta como a parte mais estreita e mais profunda do maior rio do mundo, conhecido por todos nós como Rio Amazonas.

Meu pai, Pedro Xapury, oriundo de uma família tradicional que teve a oportunidade de estudar na cidade de Belém, capital do Estado do Pará, em que se formou em Contabilidade, mas conhecido à época como “Guarda-Livros”. Trabalhou como técnico nas prefeituras de Óbidos, Alenquer, Faro, Oriximiná e de vários empresários (comerciantes de negócios internacionais) de então, como: Chocron, Belicha e Hamoy, sem esquecer a farmácia Esculápio do saudoso casal Ana e José Ayres de quem era muito amigo. São os que eu recordo bem no momento.

Casou-se, porém, com minha mãe Áurea, semialfabetizada, porém autodidata (gostava bastante da leitura), empregada doméstica, originária de uma família paupérrima da localidade rural denominada “Maria Teresa” que, desde os dez anos de idade acompanhava sua mãe, Antônia, nas viagens de canoa até Óbidos. Não conheceu seu pai de nome Rubem, de origem judaica. Tinha, entretanto, um irmão de nome Cesarino em que vários de seus filhos residem na cidade de Oriximiná.

O entrelaçamento familiar se deu quando a mamãe foi trabalhar como empregada doméstica na residência do vovô Antônio Romualdo(Tote) e da vovó Maria Maia (Maricota). Papai, recém-formado, foi acometido de uma doença no ouvido que logo perdeu a audição. Foi um dos primeiros a usar um aparelho de bolso, no formato de um radinho de pilha, em que conseguia assim se socializar com clientes e amigos. Quando não queria ser “aporrinhado”, desligava o aparelho e o mundo se “apagava” para ele. Após seu falecimento, vendemos para o Francisco Savino (Titilo), que usou por um bom tempo.

Contudo, diante da deficiência auditiva, teve uma juventude reclusa, desconfiava das pessoas que conversavam ao seu redor e viveu outro momento, pois, segundo seus amigos, quem sofre de surdez desconfia até da roupa que veste. Inteligente como era, uniu o útil ao agradável: “beliscou” a mamãe gerando, inicialmente, o nosso irmão-pai Haroldo. A posteriori veio a Graça e o Rubinho. Aí que, finalmente, o seu Ary Ferreira preparou o casamento civil, em que na certidão de nascimento dos filhos apareceu efetivamente o nome do pai Pedro Xapury de Andrade Figueira. Em ato contínuo nasceram Romualdo, Eduardo, Otávio e Rita.

Em 1964, com 53 anos de idade, veio a falecer deixando uma escadinha de sete filhos sob a batuta do nosso irmão-pai Haroldo, então com dezoito anos, após ser aprovado no concurso do Banco do Brasil, assumiu às rédeas da família. Com o passar do tempo, entretanto, cada um seguiu o seu próprio caminho sempre acompanhado pelas orações de D. Áurea.

Eis, pois, que após ser aprovado no concurso da Caixa Federal, em 1981, antes de assumir na cidade de Parintins, fui a Óbidos para descansar e recarregar as baterias para o novo emprego. Era o mês de novembro em que as festividades do Sagrado Coração de Jesus, na Cidade Nova, bombava, quase comparado ao mês festivo de julho.

Nesse compasso de tempo, conheci minha linda Inês Maria. Em fevereiro de 1982 ficamos noivos e, em dezembro do mesmo ano, casamos na Matriz de Senhora  Sant’Ana  e fomos morar em Parintins. Lá nasceram nossos filhos Aluízio (Administrador de Empresas) e Otávio (padre da Fraternidade Jesus Salvador). Depois de nove anos, ao ser transferido para Manaus, nasceu à nossa princesa Mariana (graduada em Farmácia; com Mestrado e, atualmente fazendo Doutorado na UFAM).

No entanto, recentemente nossa família passou e está passando por momentos difíceis com a partida para o Pai do nosso primogênito Aluízio, aos 34 anos de idade, que, inesperadamente, foi acometido de uma doença que até o presente momento a medicina não identificou sua origem. Quatorze dias de internação, sofrimento e esperança.  Nosso filho fez sua Páscoa, deixando como conforto sua filha, Luísa, com sua esposa Vanessa, hoje com quarenta e três dias de vida, para preencher essa sofrida lacuna. É uma dor imensurável que mexe com as entranhas de nossas vidas.

Enfim, mais uma vez agradecemos a todos que oraram, rezaram pela sua recuperação. Todavia, confiamos em Deus, na Ressurreição e por tudo que aconteceu sem murmurações e lamentações. Vida que segue, porque  nem o tempo consegue apagar.

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