Jorge Ary Ferreira.
É do conhecimento de todos, o momento difícil que vive a população mundial por conta desse vírus, as nações todas com atenção voltada para o combate da tão falada pandemia, boletins são informados diariamente da situação nacional, estadual e municipal.
Cá com meus botões, fico eu a observar, o que faz uma pequena cidade do baixo amazonas, apresentar um quadro de infecção, bem menor do que em outros municípios vizinhos, com situação financeira bem melhor que a sua, com as mesmas características geográficas, e chego a uma simples conclusão:
Ninguém muda a característica sociocultural de um povo, Óbidos sempre necessitou se abraçar para lutar contra as adversidades da vida. Basta olharmos para o nosso passado; convivemos com o militarismo no século passado, uma convivência não muito salutar, se levarmos em consideração que a farda muitas vezes leva a arrogância, ate mesmo, ao uso de violência como forma de imposição, basta lembrarmos do ditado “grosseiro”, e muito comum até pouco tempo atrás: “não aliso cu de paisano”, e isso, Óbidos nunca aceitou.
Sempre que precisou, se uniu e lutou pelo respeito a sociedade civil, jamais aceitando certas situações, jamais se calando diante das causas que defendia, e por isso sempre esteve a frente de seu tempo, como prova podemos citar vários fatos:
- Quando D. Pedro proclamou a independência do Brasil, o Estado do Pará resistia a essa independência, Belém lutava pela volta da Monarquia, a câmara municipal de Óbidos, aderiu a Independência do Brasil, passando a viver sob as normas da Republica Brasileira, enquanto o restante do estado, ainda vivia sob as ordens da Coroa Portuguesa, era uma cidade a frente do seu estado e unida em seus ideais.
- Quando, no início dos anos trinta, mais precisamente 1932, civis, convenceram os militares de baixa patente, e promoveram um levante, partindo para a luta armada em defesa da constituição brasileira, aderindo o Estado de São Paulo, na tão falada Revolução Constitucionalista de 32, armaram navios mercantes, abastecendo os mesmos com rancho e tudo que necessitavam no comercio local, e partiram para tomar Manaus, parados na sangrenta batalha de Itacoatiara, e nunca se ouviu reclamação de um comerciante sequer, provando assim que apoiavam a ação, estavam unidos naquele intuito.
- Quando um canalha chamado Magalhães Barata, assumiu o estado, e como forma de castigo, tirou a maior parte das terras do município, emancipando Oriximiná, levando com isso grande parte da renda municipal, oriunda do extrativismo, principalmente do pau rosa, castanha dentre outras, já com o conhecimento da existência da mina de bauxita, a população se abraçou, e buscou solução em outras culturas, aderindo aos puxiruns, mergulhou nas grandes cheias para salvar seu “jutal”, construiu imensas marombas para alimentar o gado, lutou unida, não se deixou abalar, Barata morreu e não teve o prazer de ter uma votação significativa neste município, sempre perdeu as eleições que disputou no município de Óbidos.
- No esporte, o exército sempre organizava as competições, ditando as regras, e privilegiando os atletas militares, deixando os atletas civis sempre em segundo plano. A sociedade mais uma vez se mobilizou, criando um clube exclusivamente de civis, e como sempre eram prejudicados nas decisões de “tapetão”, convidaram o Juiz de Direito da Comarca, para assumir a presidência do clube, e ai, mais uma vez tiveram que engolir o Mariano disputando e muitas vezes ganhando as competições esportivas do município, para os olhares de um militar, uma afronta.
- Na cultura, assistimos nossos vizinhos divididos por cores, - como ocorre em Parintins, Juruti. Por brigas que dividem o município, em grupos a disputar de forma fanática, quem de nós ainda não viu ou ouviu falar da pancadaria que ocorre costumeiramente em Parintins com o anuncio da vitória de um dos bois, em Juruti nas Tribos, em Alter do Chão nos botos, disputas essas muitas das vezes aliadas a alto investimento financeiro e a disputa política. Em Óbidos, quando acaba o carnaval, o que fica é a saudade, levaram nossa mina, não tivemos o ouro do Tapajós, mas temos um povo unido. O que é o Carnapauxi se não um abraço coletivo? Hoje, abrangendo inclusive os municípios vizinhos. Todos tem o direito de brincar em qualquer bloco, repudiamos divisões de classe.
E é justamente nas horas difíceis, que essa diferença aflora. É um povo acostumado a lutar unido. - Na hora que foi dito: - Precisamos usar máscaras! Imediatamente a sociedade respondeu, e são raras as pessoas que encontramos sem máscaras pelas ruas, quando pensamos que faltariam mascaras na cidade, as costureiras pularam nas velhas máquinas “singer”, e todos tivemos acesso sem dificuldade as mesmas, quando precisamos de voluntários para darem apoio a barreira sanitária, imediatamente diversos munícipes se colocaram a disposição. Para este caboclo, ai está a diferença nos boletins da pandemia no Oeste do Pará.
Acho inclusive, que estamos sendo modestos nas ações, nos contentando apenas com medidas que visem o isolamento social. A hora que tiver uma provocação, um movimento em prol de conseguirmos equipamento a sociedade responderá positivamente, e logo teremos testes, leitos, respiradores, e se sonharmos alto, até UTl. Porque ainda não vi o obidense fugir de uma luta coletiva.
SE TOPAREM, ESTA AQUI O PRIMEIRO!