Estamos publicando a poesia “Minha Óbidos”, de Izarina Tavares, em homenagem aos 322 anos de Óbidos, que acontece neste 2 de outubro de 2019.
MINHA ÓBIDOS
Prepara-te, menina!
Não julgues que acostumei-me ao negro asfalto
E fato que já volto pra teus braços
Pra me matares de amor...
- Pensas que esqueci tuas pradarias?
Tua Serra da Escama
Tua calmaria
Tuas construções coloniais e teus canhões
Enganas-te !
Prepara-te, que logo estou voltando
Com minha saudade redobrando
Qual fogo-fátuo a queimar os meus pulmões.
Volto munida de trovas, rimas e infernos
E juro-te:
Aí matarei meu mal interno
Que é por ti sofrer de solidão.
Reúne num porongo todos os anzóis
E linhas. E zagaias
Prepara a montaria
E não esquece de avisar a tia Maria
Para o café torrar,
Com cascas de ouriços de castanha
E a erva-doce pra cheirar.
Quero em aí chegando
Embrenhar-me qual folha de japá
No Laguinho e no Paturi,
Na aba da Serra
No Nhamundá e no Matapí.
Quero ver pular fora d'água em sua luta
O tucunaré, belo e dourado,
As vermelhas piranhas, os pacus
Pirapitingas, tambaquis e cuiú-cuiús;
O esvoaçar das piaçocas
Sobre os priantãs e os murerús
Pega a tarrafa, mano, preciso aquiescer
Não esquece os remos
Uma cuia com farinha
O sal e a cachaça
E o fumo de rolo para ti
Ou mesmo pra Matinta
Que pode aparecer.
Também pílula-contra e copaíba
De resto vai ser mesmo tudo em riba
Não vai dar para esquecer
Chama os amigos
Não esquece a "gelada"!
Com ela vararemos a madrugada
Sol a pino e a se pôr.
Pede pra mana lavar aquela rede
E um velho lençol branco
Com sândalo e patichulí
Não sem antes deixar no coarador.
E não me fales de alguém
Que está solteiro
Que quer o meu amor, e que é brejeiro
Que curte as letras
E um bom violão.
Só o quero por boa companhia
Pois é de ti que me vem minha alegria
- Minha Óbidos!
- Minha amada!
- Minha vida
- Meu torrão
Por Izarina Tavares
Extraída do Livro Banzeiro (2003).