Duas agências da ONU, a União Internacional das Telecomunicações (UIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), estão liderando um projeto inovador para conectar todas as escolas do mundo à Internet até 2030. Por meio da iniciativa Giga, lançada em 2019, o objetivo é eliminar a exclusão digital que afeta milhões de estudantes, especialmente em países em desenvolvimento e áreas remotas.
Hoje, quase metade das seis milhões de escolas globais permanece offline, impactando diretamente a educação de cerca de 500 milhões de crianças e jovens. Alex Wong, co-líder do Giga, explicou que a crise da Covid-19 escancarou a urgência de reduzir essa desigualdade. "As crianças desconectadas durante a pandemia enfrentaram grandes atrasos educacionais e dificuldades na integração social e no acesso a empregos", afirmou Wong.
A dimensão da exclusão digital
A desigualdade no acesso à Internet é uma barreira significativa ao desenvolvimento global. Nos países de alta renda, cerca de 90% da população tem acesso regular à Internet, enquanto nos países de baixa renda essa proporção cai para 40%. Além disso, o custo da conectividade é drasticamente mais elevado em regiões pobres: chega a consumir até 20% da renda mensal, contra apenas 0,4% nos países ricos.
As disparidades são ainda mais acentuadas para mulheres e meninas, que representam a maioria dos 2,6 bilhões de desconectados no mundo. Essa exclusão não apenas limita o acesso à educação, mas também aprofunda desigualdades de gênero, privando mulheres e meninas de oportunidades para adquirir habilidades digitais e melhorar suas condições de vida.
O projeto Giga foi concebido para enfrentar essas desigualdades. Desde o seu lançamento, mais de 2,1 milhões de escolas já foram mapeadas usando inteligência artificial para identificar localizações e condições de conectividade em tempo real. Países como Gana, Quênia, Níger, Ruanda e Serra Leoa estão entre os primeiros a adotar a tecnologia do Giga.
Benefícios além da sala de aula
Conectar escolas não é apenas uma solução educacional, mas também uma estratégia para transformar comunidades inteiras. Um estudo do Boston Consulting Group demonstrou que 90% dos custos de conectividade escolar podem ser compensados pela inclusão de usuários das comunidades vizinhas.
Durante o horário escolar, uma conexão básica de 20 Mbps pode atender de três a quatro salas de aula simultaneamente. Após o horário escolar, essa mesma rede pode beneficiar entre 30 e 40 residências próximas, promovendo inclusão digital e fomentando o desenvolvimento local.
Além disso, Wong destacou que as escolas podem se tornar pontos de acesso comunitário, oferecendo oportunidades para adultos desenvolverem competências digitais, realizarem transações online e participarem da economia global.
Desafios e estratégias do Giga
Embora o progresso do Giga seja promissor, os desafios são significativos. Um dos principais obstáculos é a obtenção de dados precisos sobre a localização das escolas e suas condições de conectividade. Além disso, há a necessidade de mobilizar recursos financeiros e técnicos para implementar a infraestrutura necessária.
Para superar essas barreiras, o Giga trabalha em estreita colaboração com governos, organizações privadas e sociedade civil. Parcerias com entidades como a Musk Foundation, Ericsson e Dell são fundamentais, mas sob princípios rigorosos de imparcialidade e neutralidade estabelecidos pela UIT.
Os centros de tecnologia recentemente inaugurados em Genebra e Barcelona desempenham um papel crucial na formulação de soluções. O Giga Global Connectivity Center, por exemplo, organiza workshops e desenvolve estratégias de financiamento, enquanto o Giga Tech Center foca na criação de produtos tecnológicos de código aberto.
O futuro da conectividade escolar
Em 2023, o projeto já conectou 14.500 escolas, beneficiando cerca de 7,79 milhões de estudantes. No entanto, a maior parte dos esforços ainda está concentrada nas fases iniciais de mapeamento e modelagem. A expectativa é que os próximos anos sejam marcados pela implementação em larga escala, com resultados concretos sendo alcançados até 2027.
O recente Fórum Giga Connectivity, realizado em Genebra, reuniu representantes de 25 países para discutir avanços, compartilhar experiências e alinhar estratégias. Segundo Wong, a colaboração global é essencial para alcançar a meta de 2030.
A conectividade escolar, segundo a ONU, não é apenas um direito, mas uma necessidade para garantir igualdade de oportunidades em um mundo cada vez mais digital. "Este é um passo essencial para garantir que nenhuma criança fique para trás, permitindo que todas tenham acesso à informação, às oportunidades e à escolha", concluiu Wong.
Com essa iniciativa, a ONU reafirma seu compromisso com a Agenda 2030, promovendo inclusão, desenvolvimento sustentável e justiça social por meio da conectividade digital. O desafio é grande, mas os esforços conjuntos podem transformar vidas e comunidades em todo o mundo.
www.obidos.net.br - FONTE: Baseado na Entrevista Alex Wong, co-líder do Giga.