Hugo Ferrari (in memoriam)*.
A presença de Óbidos na Amazônia foi vital para manter a soberania da região.
A localização da “cidade presépio” - como Óbidos é carinhosamente chamada - está situada entre a parte mais estreita e profunda do Rio Amazonas - assegurando assim essa estratégica posição, presente da própria natureza.
Não foi à-toa que a cidade foi militarizada, ganhando um Forte, um Quartel, e a militarização da “Serra da Escama” com a instalação de peças de artilharia, hoje, apenas relíquias que marcaram um templo de glória e de verdadeiro amor em defesa da Pátria.
E qual a recompensa significativa que Óbidos tem recebido dos governos estadual e federal por defender essa causa tão justa desde os primórdios? Praticamente nenhuma!
Lembro, em outras épocas, quando a cidade era servida pelos valentes “Catalinas” da Panair do Brasil. Foi o meu primeiro vôo de Óbidos para Belém.
Depois, com a construção do aeroporto local, a Paraense Transportes Aéreos, Cruzeiro do Sul, e, mais recentemente, a META - Linhas Aéreas, também serviram a cidade.
Atualmente, tudo acabou, onde ficamos reduzidos a “teco-teco” que trás diariamente os malotes dos Bancos, ou, para quem puder fretar um para atender suas necessidades, notadamente em casos de urgência.
A bem da verdade - nossa sorte é estarmos perto de Santarém - senão, a situação estaria bem pior, pois é para lá que a maioria das pessoas oriundas das cidades circunvizinhas se deslocam para viajar via aérea.
O transporte aéreo é sinal vital de integração nacional para um País continental como o Brasil, fato que ainda não é considerado e nem mesmo reconhecido pelas nossas autoridades.
Mas, o eu quero questionar, é por que o governo não subsidia uma empresa aérea para atender Óbidos e as outras cidades da Amazônia na mesma situação? Seria o mínimo que poderia ser feito.
Qual é então a contrapartida que recebemos por defender a Amazônia? Nenhuma! Estamos, há muito tempo, vivendo a “pão e água”.
Ainda não aprendemos a reclamar e nem mesmo exigir um tratamento mais digno. Aceitamos tudo pacificamente sem esboçar qualquer reação.
Temos muito orgulho do nosso País! Somente não concordamos é com essa brutal discriminação da qual somos permanentemente vítimas.
Nós é que fomos e continuamos a ser os verdadeiros defensores da Amazônia. Sem a nossa presença, pouca coisa existiria. O tratamento que recebemos, é como se fossemos brasileiros enjeitados.
Já a riqueza do nosso subsolo deveria ser direcionada prioritariamente para atender as nossas necessidades mais prementes, porém, o que vemos, é o aumento brutal da miséria, do desemprego, do avanço das doenças, do analfabetismo, da violência, etc, tal a indiferença com que somos tratados.
Finalmente, não aprendemos reagir democraticamente e a nos impor como fazem outros povos. Além de maltratados e ignorados, continuamos a bater palmas. Até quando?
*Este texto sobre o aeroporto de Óbidos foi originariamente publicado em 22/03/2011, mais atual do que nunca.