SAÍDA DE OBIDENSE!

SAÍDA DE OBIDENSE!

Jorge Ary Ferreira. 

Dentre os momentos especiais da minha vida, um se deu justamente por volta dos meus 12 anos, quando ainda tinha o meu pai e morava em Óbidos, uma vez que era filho mais velho e sempre me fazia presente em locais onde ele estava, assim como todo pai se faz acompanhar pelo filho homem, uma vez que os locais a que eu me refiro eram justamente nos bares, nas rodadas de amigos, nas caçadas e eu tive o privilégio de várias vezes participar desses momentos incríveis, porque tratava-se de uma turma muito animada, obidense que encarnava a essência do que é ser Pauxi.

Exímios gozadores, brincavam com tudo, lembro de uma viagem que fizemos ao nossos retiro da fonte, onde meu pai foi acompanhado dos amigos Saladino de Brito, Mário Rêgo e tio Dó. A dificuldade era parar de rir desses caras, do pouco que eu lembro daquelas histórias, duas ficaram gravado na minha memória.

Foi justamente a saia justa que a cidade passou durante um período em que duas potências europeias mandaram uma comitiva ao município, condecorar os trabalhadores obidense pelo bom desempenho, pela bravura nas matas, delimitando a nossa fronteira com as Guianas Inglesa e Francesa.

Vou tentar narrar o que ficou na minha memória do que ouvi a época e logicamente, eram narrativas não de fatos, mas de como a história se espalhou pela cidade ou talvez de como foi inventada por algum brincalhão da época. É justamente o momento em que o caboclo precisa dar o seu jeito, se virar nos trinta, se desdobrar para poder não passar vergonha na frente de outras pessoas.

Foi noticiado que chegaria uma corveta da Coroa Britânica, para condecorar os bravos obidense que trabalharam na comissão de limites e Óbidos, uma cidade militarizada e com localização privilegiada as margens do Rio Mar foi escolhida para o importante evento.

Logo veio a preocupação na véspera do dia marcado: como entender o que os gringos iam falar, saíram a procura de alguém que tivesse o mínimo de conhecimento da língua inglesa para servir de interprete e revirando a cidades só restou confiar nos amigos que se reuniam no charmoso Bar Andrade, que era o polo cultural da cidade naquele momento. Ali reuniam as autoridades, oficiais do exército, dentre outros, justo onde tiveram notícias de que o Japonês Kikut tinha nações da língua inglesa. Explicado a situação, logo o salvador da pátria concordou com a missão e no dia seguinte, assim que a Corveta apontou na ponta do auerâna, o recado chegou no Bar Andrade:

- Kikut, baixa que os homens estão chegando.

Corveta ancorada, os milicos ingleses descendo, o prefeito cumprimentando e apontando para o japonês e logo veio a primeira pergunta do mais amedalhado da turma:

- Do You Speak English?

Kikut ajeitou a camisa no pescoço, aquele jeito peculiar de quem sai a poucos instantes da mesa de bar, rastreou seu HD e a única expressão que encontrou para responder foi:

- um pouquito!

Causando no prefeito aquela reação bem comum, onde a pessoa aperta os dentes e diz bem baixinho:

- um pouquito um cacete*****

Porém foi totalmente compreendida pelo Almirante Inglês, uma vez que o momento da pronúncia se fez acompanhar daquele gesto típico onde se aproxima o indicador do polegar, como se pedisse uma dose de alguma bebida ou se referisse algo de pequeno tamanho, de pouco volume, e assim percorreram a cidade e terminaram a cerimônia, acenando mais do que falando......

Em um segundo momento de que Óbidos passou por essa sai justa foi justamente na vinda dos Franceses, também para condecorar os bravos obidenses pelo bom desempenho de demarcação dos limites com a Guiana Francesa.

A mesma necessidade se fez, procurar alguém na cidade que tivesse o mínimo conhecimento da língua francesa para recepcionar a comitiva que em breve chegaria na cidade, então a única pessoa indicada que tiveram lembrança era o seu Lalor, um homem com muita experiência, vivido, apreciador da boa leitura, acharam que poderia ajudar o município naquela momento.

Então seu Lalor se saiu um pouco melhor, recebendo a comitiva, uma língua mais parecida com a nossa facilitou a tarefa, porém quando passeavam pela cidade, passaram no canto da rua Almirante Barroso com Avenida Dom Floriano, próximo Quartel, onde moravam pessoas conhecidas e muito queridas, inclusive, o Baena, um dos condecorados.

Passando naquele perímetro, um dos membros da comitiva francesa olhou para a cerca do quintal que dividia o terreno das "canaranas" com o dos "Pitius" como eram carinhosamente conhecidas as família vizinhas, e viu alguns passarinhos em um objeto côncavo, pendurado no galho de um arbusto, se dirigiu até o local para admirar e melhor observar as aves, indagou de que se tratava ao mestre Lalor, que também fez uma varredura no HD da sua cabeça não encontrou nada que pudesse pronunciar para identificar aquela cena, imaginou uma expressão que talvez fosse a pronuncia em Francês e lascou:

- Perriquitê corrombó.

Tentando traduzir para o francês, "Periquito no Coió".

Óbidos é outro nível, se não tem as manhas....!

 

Adicionar comentário


Código de segurança
Atualizar