MÃE É MÃE
Haroldo Figueira.
Toda vez que penso no nome mãe, a imagem que me vem à mente é a de um rio que nasce de uma pequena fonte e, ao longo do trajeto, vai recebendo contribuições de seus afluentes, até transformar-se em um caudaloso curso d’água. Parece fazer sentido, mãe é uma palavra curta em extensão, mas que se agiganta quando se lhe agregam os múltiplos predicados que meritoriamente a completam. Mãe é carinho, mãe é ternura, mãe é devotamento, mãe é generosidade, mãe é proteção, mãe é confiança, mãe é segurança, mãe é paciência, mãe é desvelo, mãe é diligência, mãe é atenção, mãe é sacrifício... E a lista segue interminável.
Mãe é a encarnação do amor, enfatizam alguns com toda a segurança. Teriam razão? Creio que sim. Dentre as muitas acepções que o vocábulo amor admite, encontra-se aquela que o conceitua como doação de si. Ora, quem dentre os seres humanos consegue doar-se ao outro por inteiro e de modo incondicional? A mulher que é mãe, sem sombra de dúvidas.
Acrescentaria que a humanidade deve muito ao amor de mãe. Muitos seres humanos que fizeram história, de ambos os sexos, reconhecem explicitamente que por trás de suas bem-sucedidas trajetórias de vida está a ação orientadora e de suas mães. Poderia narrar muitos depoimentos. Limito-me a reproduzir os dizeres do grande estadista Abraham Lincoln: “Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo: minha mãe”.
Amor também é renúncia, ato rotineiro na vida das mães. De quanto prazer ou conforto material não costumam abrir mão para que os filhos não se sintam desamparados, abandonados ou de alguma forma carentes de apoio? Noites insones, projetos pessoais adiados ou desfeitos, oportunidades de lazer ou de ascensão profissional preteridas... Quando o que está em jogo é o bem-estar dos filhos a capacidade de desprendimento dessas abnegadas mulheres desconhece limites.
Vem da Bíblia um exemplo extremo de renúncia materna. Refiro-me à passagem conhecida como julgamento de Salomão (I Reis, 3, 16-28). Na narrativa das Escrituras, duas prostitutas comparecem diante do rei, alegando serem as mães da mesma criança. Como o impasse persistisse, o monarca pediu então uma espada a um de seus soldados e ameaçou partir o bebê vivo ao meio e destinar metade para cada uma. A falsa mãe concordou com a solução. Já a mãe verdadeira implorou ao julgador que desse o menino à outra, pois preferia perdê-lo a vê-lo morto. A partir daí, tornou-se fácil para o soberano que se notabilizou pela sabedoria fazer justiça.
O mais bonito no dom da maternidade é que não precisa do fator sanguíneo para se manifestar. Pode funcionar, com o mesmo grau de intensidade, tanto em mães biológicas, quanto em mães adotivas. Conheço algumas mulheres, inclusive na família, que acolheram como se seus fossem crianças geradas em outros ventres, e posso testemunhar com conhecimento de causa, que os cuidados, as preocupações, o amor devotado a elas em nada diferem dos que qualquer mãe natural dedica às suas crias.
Mãe é alguém importante. Mais que isso, considero as mães como as mais abençoadas criaturas que habitam o planeta Terra. Falo assim movido não apenas por mero sentimentalismo filial, mas levando em conta que, Deus, no alto de sua onipotência e onisciência, achou por bem recorrer ao concurso de uma delas para trazer ao mundo seu filho unigênito. Pode haver honra ou distinção maior?
No próximo dia 8 de maio comemora-se mais um Dia das Mães. Muitas homenagens devem ser prestadas a essas mulheres maravilhosas, dignas de todo o apreço, respeito e admiração. Que os filhos que desfrutam da imensa ventura de poder cumprimentá-las fisicamente, o façam cercando-as de flores, de mimos, de demonstrações de afeto e saibam ser gratos e carinhosos para com essas pessoas para lá de especiais.
Lamentavelmente, nem todos hão de se sentir plenamente felizes. O aguilhão da saudade e a dor da separação certamente revisitarão aqueles que se encontram na orfandade. Todavia, a lembrança dos bons momentos vividos ao lado de suas mãezinhas, a crença que a misericórdia divina há de apiedar-se de suas almas e a esperança de um dia reencontrá-las na eternidade os confortarão e incutirão neles o ânimo necessário para levantar a cabeça e continuar tocando a vida.
Gostaria de finalizar o presente texto com uma definição sobre o que é ser mãe. Pessoalmente, julgo-me incompetente para formulá-la, por entender que me faltam as palavras certas. Imagino também que, se fosse pesquisar entre os cérebros mais brilhantes que já se pronunciaram a respeito, seja no presente ou no passado, teria dificuldades na hora de fazer a seleção. Opto, então, pela solução aparentemente mais simples. Fico com uma frase sintética que a sabedoria popular consagrou: mãe é mãe. Literalmente, parece não esclarecer muita coisa. Lida, porém, com o coração, autorrevela-se na amplitude de seu sublime significado.