O País dos vulcões

O País dos vulcões

Haroldo Figueira

Gosto de viajar. Na realização dessa atividade lúdica, tenho passeado bastante, dentro e fora do país. Em todos os lugares para os quais me desloquei, encontrei paisagens, gentes e culturas diferentes, tudo, porém, mais ou menos dentro do esperado, devido à disponibilidade de informações a respeito dos destinos escolhidos.

 

Encontro-me, atualmente, no Equador. Apesar de situar-se na América do Sul é pouco conhecido pelos brasileiros. Talvez isso se dê pelo fato de, juntamente com o Chile, não fazer fronteira com o Brasil. Como dele pouco se ouve falar em nossa pátria, a ideia que me vinha à mente antes de visitá-lo era a de que se tratava de um país atrasado, sem muita relevância.

Constatei que não é bem assim. Aliás, devo dizer que o lugar me surpreendeu positivamente. Não só por conta de sua natureza exuberante, mas também em razão do modo de ser e de viver do povo equatoriano. Causaram-me boa impressão os habitantes do local. Pareceram-me pessoas acolhedoras, educadas, detentoras de bom padrão de urbanidade.

Do ponto de vista das belezas naturais, destaca-se a cadeia de montanhas que integra a Cordilheira dos Andes. No território do Equador, os grandes elevados de formação vulcânica alcançam alturas que ultrapassam fácil os 5.000 metros, produzindo um panorama estonteante de se contemplar, não só por suas projeções em direção ao firmamento, mas também pela verdejante vegetação que domina suas encostas e pela neve que alguns acumulam em seus cumes.

Existe até uma avenida dos vulcões. Viajando pelas regiões montanhosas passa-se por vários desses colossos geológicos. Pichincha, ainda em território quitenho, encabeça a fila, Cayambe, Antisana, Iliniza, Cotopaxi (assemelhado ao monte Fuji, no Japão), Tungurahua, Altar, Sangay, etc. também estão no caminho, assim com o Chimborazo, o gigante com 6.310 metros de altitude que, segundo estudiosos, transforma-se no ponto mais alto do mundo, se medido a partir do centro da Terra. Há mais de sessenta vulcões no Equador.

Deve-se destacar ainda o clima ameno. Em Quito, as temperaturas máximas giram em torno de 21 graus o ano todo. O mesmo se repete, com discretas variações, nas demais cidades existentes ao longo do acidentado relevo andino. Já ao nível do mar, predomina o calor tropical. Como na maior parte do Brasil, as quatro estações não estão bem definidas, alternando-se um período chuvoso e outro de estiagem.

A consciência urbanística e ambiental da população, boa parte de descendência indígena, inclusive da extinta civilização Inca, pode ser medida pela limpeza da cidade e pelo modo como cuidam de suas praças, parques e outros logradouros públicos. Há muitos desses espaços de lazer, todos arborizados, ajardinados, gramados. Esse zelo estético em deixar verde e florido o ambiente estende-se às entradas, janelas e varandas das residências.

Especial atenção do visitante merece o Centro Histórico, o primeiro a ser reconhecido pela ONU como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1978. Trata-se de um conjunto arquitetônico (o maior da América Latina), composto de belas igrejas (dentre elas a da Companhia de Jesus, construída com pedras vulcânicas e toda ornada com folhas de ouro), palácios, museus admiravelmente preservados. Caminhei por algumas de suas estreitas ruas, onde transitam diariamente milhares de pessoas, e não encontrei um único pedaço de papel, garrafa ou copo de plástico atirado ao chão.

Até mesmo pela estrutura montada para receber o turista, vale a pena conhecer o local exato em que a linha do Equador, que divide o planeta nos hemisférios norte e sul, corta o país, conhecido por “Ciudad Mitad Del Mundo” (Cidade Metade do Mundo). Ali foi erguido um imponente e moderno monumento, onde funciona o “Museo Etnografico Mitad Del Mundo”, que reúne em seu interior informações e estudos sobre a etnografia indígena equatoriana. Vizinha, encontra-se a sede da União das Nações Sul-Americanas – UNASUL.

As atrações do Equador não se circunscrevem a Quito. Existem outras cidades e regiões interessantes de se ver como Guayaquil, no litoral do Pacífico, a maior do país, Cuenca (também declarada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela ONU, por conta da beleza e conservação de seu casario colonial), a Amazônia Equatoriana (cuja área de floresta, rica também em petróleo, corresponde a 45% do território do país) e as famosas ilhas Galápagos, base das pesquisas de Darwin para a formulação da teoria da Evolução das Espécies. Certamente não vai dar para visitar todos esses lugares na minha estada por aqui. Fico, porém, satisfeito com o que vi naqueles aonde tive a oportunidade de ir.

Teria muitas outras coisas para falar dos equatorianos, tais como: que eles produzem muitas flores, bons chocolates e excelente artesanato em madeira, tecido, couro e cerâmica. Prendo-me, no entanto, aos hábitos alimentares, pela similitude que têm com os nossos no Brasil. Aqui se consome, bastante, carne bovina, suína, de frango, pescados e camarões. O churrasco, inclusive os de fim de semana, é iguaria valorizada por estas bandas. Há abundância de frutas, muitas familiares para nós, só que chamadas por outros nomes como: graviola (guanábana), melancia (sandía), abacate (aguacate), abacaxi (piña), morango (fresa), etc., verduras e legumes. O mais curioso foi constatar o quanto apreciam a banana frita – petisco derivado da banana grande verde que os amazônidas conhecemos bem. O consumo popular é tamanho – a ponto de a produzirem em escala industrial – que pode ser encontrada em qualquer mercearia e até em supermercados, além de se fazer presente entre as guloseimas servidas nas festas de aniversário de crianças.

Quito, 13 de março de 2016.

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