Historinha de Óbidos para crianças

Historinha de Óbidos para crianças

Historinha de Óbidos para crianças (e para gente adulta que gostou de ser criança)

Ademar Amaral. 

O Rio Amazonas é o maior rio do mundo. Muito largo, muito comprido e muito fundo. Começa no Lago Lariocha, no rio Urubamba, lá longe, numa montanha da Cordilheira dos Andes, num país chamado Peru. Desce a Cordilheira no rumo do Brasil e vem recebendo os nomes de Tunguragua, Marañon, e Ucayali. Aí entra no Brasil com o nome de Solimões, passando a se chamar Rio Amazonas quando junta suas águas barrentas com as escuras do Rio Negro. E segue em frente até seu barulhento encontro com o Oceano Atlântico muitas e muitas léguas adiante.

O Amazonas é tão largo em certas paragens, que mesmo um homem com a visão de uma águia não consegue enxergar um outro homem na outra margem. E tão fundo que nem o nosso pai, que é um homem bem grandão, consegue tomar pé. Essas funduras misteriosas do Rio Amazonas, que nossos caboclos ribeirinhos chamam de peraus, são a moradia de 2.500 espécies de peixes, incluindo do nosso saboroso jaraqui e das enormes piraíbas, que quando crianças, são chamadas de filhotes.

Esse rio deve muito da sua pujança a outros rios amigos que são chamados de afluentes. Sem suas nascentes, no Peru, sem seus afluentes, sem as matas e sem as chuvas, o grande Amazonas seria um rio seco. Assim também somos nós. Sem a nossa mãe de quem nascemos, sem nossa família para nos dar apoio, sem os bons amigos que encontramos pelo caminho e sem a ajuda da natureza com suas chuvas e suas matas verdejantes, não seríamos nada. Quando muito, talvez, criaturas parecidas com um rio seco e sem vida.

São os afluentes, todos unidos, que enchem o Amazonas dessa vastidão de água e somam esforços para ele ser o campeão do mundo de todos os rios. É igualzinho como na nossa seleção de futebol, onde todos se juntam para formar um grande time campeão do mundo. O Brasil tem a seleção de futebol campeã do mundo e o Rio Amazonas campeão do mundo. Nele, os afluentes se fundem e juntos correm numa viagem de quase 7.000 quilômetros, desde o longínquo Peru até o mar.

Mas enquanto nossa seleção tem onze jogadores, o Rio Amazonas entra em campo com um time de mais de 1.000 afluentes. São rios gigantes – 17 deles com mais de 1.600 quilômetros de comprimento – e riachos bem pequenos, mas não menos importantes, formando um volume sem tamanho de água e uma imensa bacia fluvial.

Na escola onde a gente estuda, mesmo um menino muito inteligente não consegue decorar o nome de todos esses mais de mil afluentes do Rio Amazonas. Aí, nossa professora ensina que a gente deve aprender pelo menos os 14 afluentes principais, sendo 7 pela margem direita e 7 pela margem esquerda. Como filhos da terra Pauxi, é muito feio não sabermos os nomes dos principais afluentes do Amazonas. Que tal decorá-los cantando? Os 7 da margem direita são: Javari, Juruá, Purus,  Madeira, Tapajós, Xingu e Tocantins. E os 7 da margem esquerda são: Içá, Japurá, Negro, Nhamundá, Trombetas, Parú e Jarí. Então, invente uma musiquinha qualquer e saia cantando os nomes desses principais afluentes do Rio Amazonas. Eu garanto que você nunca mais vai esquecer. Eu fiz essa arte quando eu era criança e todos os adultos me achavam um menino muito ladino. É fácil aprender estes dois versos:

Javari , Juruá, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu e Tocantins.

Içá, Japurá, Negro, Nhamundá, Trombetas, Parú e Jarí.  

O Rio Amazonas é importante para todos os que vivem às suas margens, mas tem uma importância vital para nós, os obidenses. Além de dar o peixe que nos alimenta e a água que nos mata a sede, através dele podemos viajar de barco para quase todos os lugares e para a maioria das nossas principais cidades. Em frente a Óbidos também temos a parte mais estreita do rio, conhecida como a garganta do Amazonas.

É o ponto onde o rio tem a maior fundura e a mais veloz correnteza, sendo muito fácil de entender se compararmos o Amazonas com o jato daquela mangueira usada para molhar os jardins das nossas casas. Quando a gente aperta a ponta da mangueira, não aumenta também a velocidade da água? Pois assim acontece em frente de Óbidos: o rio se estreita, a velocidade da água aumenta e vira tudo uma incrível correnteza. Assim, e por muitos anos, a força do rio foi cavando o barro; cavando até atingir essa fundura imensa que só Deus dá conta da grandeza. Dizem os homens mais sabidos que o perau tem mais de 100 braças. Será?

E vocês sabem que foi por obra dessa garganta que nasceu a nossa amada cidade de Óbidos? Ah, não? Então eu vou contar: logo depois do descobrimento do Brasil, um corajoso aventureiro espanhol, de nome Francisco Orellana, viajou pelo Rio Amazonas. Saiu do Peru, enfrentou doenças e índios, só parando quando chegou no Oceano Atlântico. Quando o barco dele passou defronte de onde fica Óbidos, ele imaginou que aquele era o lugar ideal para se construir um forte cheio de canhões. Esse mesmo Orellana contava ter lutado com umas índias guerreiras perto do rio Nhamundá, que ele comparou com as Amazonas guerreiras da mitologia grega. Daí que o rio passou a se chamar de Rio das Amazonas e, depois, Rio Amazonas.

Em 1637, um outro aventureiro, o português Pedro Teixeira, fez o mesmo percurso de Francisco Orellana, mas em sentido contrário, e teve a mesma ideia do espanhol. Logo tratou de escrever ao rei de Portugal, propondo a construção do forte para proteger as terras de Sua Majestade. O forte foi construído alguns anos mais tarde, recebendo o nome de Forte Pauxis, em homenagem aos índios que habitavam aquela região. Por isso, ainda hoje, batemos no peito e dizemos com orgulho que temos, correndo em nossas veias, o bravo sangue dos índios Pauxis.

O lugar foi juntando gente, outras pessoas apareceram e o entorno do Forte Pauxis já estava cercado de casebres. Um dia o lugarejo foi elevado à condição de vila, e os portugueses passaram a chamá-lo de Vila de Óbidos, para homenagear uma linda cidade de mesmo nome que fica em Portugal. Outros anos passaram, mais pessoas foram chegando e a vila cresceu a ponto de se tornar uma cidade em 1854.

Pois vejam, vocês, como a nossa Cidade de Óbidos tem uma origem bonita e que nos enche de orgulho. E que bom seria se todas as crianças aprendessem essa história e saíssem contando a todas as pessoas por aí.

Na verdade, esses fatos só aconteceram por causa da garganta do Amazonas. Temos os nossos pais, mas também é certo que somos todos filhos legítimos desse magnífico e majestoso rio que passa e banha a nossa cidade. Sem o rio e sem sua estreita garganta, não teria ocorrido aos primeiros aventureiros, a ideia da construção do Forte Pauxs.

Nossos tataravós jamais teriam ido morar ali, nós não teríamos nascido, não haveria a festa da Senhora Sant’Ana, o carnaval do mascarado fobó e nem o festival do jaraqui. Não haveria os belos romances de Inglês de Souza e nem a obra extraordinária de José Veríssimo. Não haveria o time do Paraense e muito menos o do Mariano. Também não haveria eu, um obidense nascido na Rua do Bacuri, que recebeu das profundezas do rio, a missão de escrever esta historinha de Óbidos para vocês.

 

Comentários  

0 #2 Alberto Rogério 03-10-2021 08:42
Ademar vc e o cara! Perfeito seu escrito e vou guardar nos meus arquivos, com sua permissao
Citar
0 #1 Podalyro Amaral de S 02-10-2021 22:55
Parabéns, Ademar. Um excelente texto de [censored]dráulica Fluvial e, para mim, ainda muito sentimental.
Citar

Adicionar comentário


Código de segurança
Atualizar