FRANCISCO DE ASSIS – A ORAÇÃO – 2ª PARTE

FRANCISCO DE ASSIS – A ORAÇÃO – 2ª PARTE

Por Edilberto Santos.

*Onde houver erro, que eu leve a verdade.

Nada mais iníquo e prejudicial do que o erro, e os exemplos estão por aí notadamente nos noticiários da imprensa que, vez por outra, ressaltam exemplos como os erros judiciais que levam pessoas a passar anos presos em presídios superlotados e ambiente desumano, além de outros erros que cometemos e que levam à injustiça.

Também aqui pede Francisco forças para se contrapor ao erro, mostrando sua postura “reativa” diante da existência do erro esteja ele onde estiver, haja ele “onde houver” e em rogativa, pede ao Divino para também nesses casos, ser o instrumento para a promoção do que chamo de “contraponto” do erro e que nesta estrofe é a Verdade.

A Verdade sempre espanca o erro, a iniquidade, a injustiça e traz paz, justiça, harmonia e tantos outros benefícios que são consoantes com os ensinamentos de Deus, e foram muito bem captados pelo luminar que nos foi legado e que nasceu em Assis.

A verdade a que se refere Francisco nesta estrofe não se restringe à verdade humana, à verdade do mundo existencial, mas a transcende para buscar a verdade divina, a verdade suprema que está além de nossa compreensão, e que só as conheceremos se agirmos com Fé.

A conversão de Francisco se deu em profundidade no seu aspecto espiritual, daí porque a verdade que menciona e que quer levar onde houver erro é o próprio CRISTO.  Jesus Cristo é a verdade a que se refere nesta estrofe e não a simples verdade humana que é falha.

Então disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho”? Jesus lhe respondeu: “ Eu sou o caminho, a VERDADE e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto”.

*Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Não sei se o leitor já teve a oportunidade de ver o comportamento de uma pessoa desesperada. Eu posso afirmar que, por já ter visto e tentado controlar uma desesperada, é uma experiência única e uma cena que jamais se esquece.

Francisco também foi sensível a esse sentimento que aflige o ser humano e o embota, deixa-o absolutamente ausente e desligado de qualquer comportamento racional, de qualquer raciocínio lógico, é pura emoção no seu mais alto grau de descontrole, desesperança, aflição, enfim, uma pessoa desesperada às vezes sequer lembra detalhes de seu comportamento quando assolado pelo desespero, daí resultarem os suicídios, os homicídios e comportamentos considerados tresloucados.

 Minha experiência pessoal e inesquecível com esse sentimento se deu durante meu plantão na Delegacia de Polícia, com a visita de uma mãe a seu filho que estava preso, e era o dia de natal.

Francisco novamente pede a Deus para servir de instrumento e assim levar a palavra, a fé em Jesus Cristo e em sua bondade infinita, oferecendo em Deus um bálsamo para o sofrimento dos desesperados, levando em nome de Deus o “Contraponto” que é o sentimento da Esperança; o lenitivo de uma palavra amiga de esperança, luz e fé em Deus, no momento dramático de um desesperado.

*Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

A tristeza acabrunha a alma, conduz para a doença do século que é a depressão, é em menor grau um momento também de desespero e de desesperança, um momento em que você não vê a beleza da vida, dos animais e da natureza que tanto encantavam Francisco.

Esse sentimento embota seus sentidos e o leva a uma introversão quando você se sente o pior dos piores, o mais feio dos feios, o mais gordo dos gordos enfim, sua autoestima vai para a sola do pé e você despreza a alegria de viver, a alegria de trabalhar, de ir ao Shopping ainda que só para passear, face essa inflação galopante.

Novamente Francisco capta esse sentimento humano e pede a Deus para também aqui servir de instrumento, sempre servindo de instrumento e jamais como protagonista como já disse alhures, para nessa condição também oferecer aos corações tristes uma palavra de alegria, de júbilo, de amor lembrando sempre, que todos indistintamente somos filhos queridos de Deus e Nele devemos buscar a alegria de viver. Deus nos ama tanto em nossas alegrias como nas nossas tristezas.

*Onde houver trevas, que eu leve a luz.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (João 8, 12).

Francisco viveu e conviveu com as trevas da ignorância de uma sociedade que premiava o supérfluo, a aparência em detrimento da essência, a riqueza material tal qual hoje em dia quando observamos também a predominância das trevas da ignorância, do preconceito, do valor social que é medido pelo que você tem e não pelo que você é enfim, a realidade social mundial não mudou muito desde a época em que viveu Francisco na Itália.

Pode parecer simplório o que vou dizer, mas, mesmo assim, pergunto se você já observou sob a ótica dessa oração, que quando você entra em um quarto escuro na sua casa ou apartamento acontece o fenômeno descrito na Oração que é o de você se incorporar à escuridão física do ambiente, tornando-se também escuro independentemente de sua iluminação espiritual, intelectual, religiosa etc.

Mas se você no “contraponto” como Ora Francisco, acender uma lâmpada que trague a luz, esta luz espanca a escuridão do quarto e você se diferencia naquele ambiente, não mais carregando consigo a escuridão, as trevas do ambiente, mas agora iluminado pela lâmpada, passa a vivenciar outro fenômeno físico produzido por você que é a sua própria sombra, e que vai onde você for e está sob seu controle, sendo eliminada se você ficar em um ângulo de emissão da luz que não permita a existência da sombra.

Francisco com sua iluminada percepção, também aqui pede a Deus que lhe permita, metaforicamente falando, acender uma lâmpada em seu quarto para espancar do seu ambiente e de dentro de você, as trevas que se lhe possam estar dominando o espírito e o coração.

 

A luz que Francisco nesta estrofe menciona, é a própria luz que emana da fé em Jesus Cristo. A luz que o iluminou para leva-lo à conversão extremada aos ensinamentos de Jesus, ele agora pede a Deus que lhe permita espraiar esta mesma luz de sabedoria nas trevas dos infiéis, dos insensatos, dos ignorantes e dos descrentes em Deus. 

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