Óbidos Histórica Desmoronando

Óbidos Histórica Desmoronando

Eduardo Dias.

A derrubada do prédio histórico que pertenceu ao senador e intendente municipal Correa Pinto, localizado na antiga Rua Bacuri, hoje dep. Raimundo Chaves, um dos imóveis de arquitetura colonial mais imponentes da cidade, coloca Óbidos em sinal de alerta para a prática da falta de preservação e a constante derrubada do seu maior tesouro: o complexo de prédios que compõe o seu patrimônio arquitetônico, que remonta o período da riqueza do ciclo do cacau na Amazônia.

Em 11 de setembro /2016 foi demolido
Em 11 de setembro /2016 foi demolido

O mais grave na cidade Fivela, no entorno onde estão localizados esses imóveis, vários já caíram ou estão ameaçados, vítimas da falta de cuidado dos proprietários. E o pior, uma triste constatação: a falta de interesse da sociedade local em regaçar as mangas e lutar pela preservação do seu patrimônio histórico.

O Município sempre teve a tradição de zelar pela sua cultura, e sempre esteve na vanguarda no baixo amazonas nessa seara, tanto que possui uma associação cultural civil, a ACOB, mantenedora do Museu Local. Nos seus arquivos, muitos documentos preciosos como fonte de pesquisa da historiografia da região, já serviu de fonte para o mestre historiador Walter Pinto discorrer sobre a Revolução constitucionalista no baixo amazonas. O historiador doutor Márcio Couto também esteve desvendando sobre o nosso vigário, padre José Nicolino de Souza. Foi a ACOB que promoveu o encontro de raízes negras na região, reunindo os antigos mocambos de Alenquer, Trombetas, e outros, através da prof. Idaliana Marinho. Nos dias atuais, a entidade vive com suas portas fechadas, sua atuação se resume em promover o Festival do Jaraqui, onde os recursos que eram pra atender os interesses da entidade, que hoje se arrasta a míngua, estranhamente, sua diretoria resolveu destinar para as obras do hospital da Santa Casa.  No entanto, dispõe apenas de uma voluntária que vai prestar serviço em descontinuidade. Uma pena.

Forte Pauxis: Patrimônio Nacional
Forte Pauxis: Patrimônio Nacional

Óbidos também foi um dos municípios que mais avançou na questão patrimonial. Ganhou da Secult, na gestão do poeta Paes Loureiro, o Museu Contextual, hoje com a maioria das placas recolhidas no acervo da ACOB, vítimas de vândalos. Em 2009 ganhou a Lei N. 3.753, que dispõe sobre o processo de tombamento, autoria de Ruicí Serique, que cria o Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural e Artístico obidense, devidamente implantado na gestão do prefeito Jaime Silva, e como exigência do IPHAN, serviu para o município se habilitar no PAC das Cidades Históricas, onde, além de provocar a proteção do tombamento do Forte Pauxis, hoje, patrimônio da Arquitetura Nacional Brasileira, foi contemplado no PAC para ser restaurado, junto com o Mercado Municipal. Infelizmente, a gestão do prefeito Jaime Silva não levou a cabo até o final da obra, comprometendo também o restauro do Mercado Municipal que se encontra num estado bastante prejudicado pela ação do tempo.

Fachada lateral do Mercado Municipal
Fachada lateral do Mercado Municipal

Mas onde está o problema obidense, porque os prédios estão caindo, outros sendo descaracterizados. Óbidos avançou com a sua Lei de Patrimônio, mas a gestão atual não tem compreensão do seu papel de atuação. O Município dispõe do Conselho que é o responsável e tem como atribuição, entre outras, fiscalizar para não permitir que as construções históricas sejam descaracterizadas, indicar e iniciar o processo de tombamento dos prédios que estão no entorno histórico.  Infelizmente, o próprio setor jurídico da prefeitura, consultado, a respeito de se realizar o processo de proteção de tombamento do prédio, ora derrubado, e que é de propriedade particular, declarou na imprensa, “que o município não faria o tombamento por que não tinha recursos para realizar sua recuperação’”. Ou seja, demonstrando o seu total desconhecimento sobre o assunto, até permitindo a ação que se consumou com a derrubada total do prédio, e com ele, levando uma parte gloriosa da memória da história de Óbidos.

Restos do Antigo Cinema
Restos do Antigo Cinema

 

Residência do artista Chico Santos – descaracterizada
Residência do artista Chico Santos – descaracterizada

E por ora, enquanto o Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural e Artístico obidense, formado por representantes de várias entidades civis, inclusive a ACOB, Academia Artística Literária Obidense, entre outras, não entrar em campo para fiscalizar, e realizar os trabalhos para que os prédios possam sofrer o processo de proteção dentro dos ditames legais que a Lei exige, a tri centenária Cidade de Óbidos deve continuar fragilizada, sem a proteção merecida para a preservação do seu patrimônio histórico. A nosso ver, mister se faz necessária à intervenção do Ministério Público para cobrar da Secretaria de Cultura, a imediata atuação do referido conselho.

Essa residência já desabou
Essa residência já desabou

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