FRUTA DIVINA

FRUTA DIVINA

Jorge Ary Ferreira.

As brincadeiras dos obidenses na juventude eram tantas e se estendiam até a terceira idade. É incrível o quanto as gerações se aceitam e convivem brincando, sem mimimi, pouco se fala em bullying, pouco se vê mágoas por conta de brincadeiras, o que se vê é a famosa “forra”, que são as mais variadas possíveis, nem sempre de bom gosto, e confesso que na maioria das vezes discordo, às vezes extrapola, mas sempre são entendidas, relevadas e motivo de agirmos com outras brincadeiras.

Dou como exemplo alguém achar uma cova de ovo de tracajá, tirar os ovos e encher a cova vazia com fezes de boi ou até mesmo do próprio, tapando novamente essa cova, para que o amigo que viesse atrás, tirasse a ninhada e quando metesse a mão, ao invés de ovos, suje a mão com estrume de boi ou de alguém. Outra também frequente, é colocar Lacto-Purga na bebida ou na comida do amigo, causando-lhe uma inesperada diarreia, mandando o freguês pra casa antes do combinado, em função do perrique que se aproxima.

Porém, uma das mais pitorescas que tive notícia e, até certo ponto, testemunhei, foi a seguinte.

No canto da Avenida Dom Floriano com a Avenida Almirante Barroso, bem em frente ao Quartel, existia o açougue do meu amigo Benjamim, o famoso Perna-de-pau ou Beijoca, onde sempre, nos dias de semana, aos finais de tarde, e pelas manhãs de sábados e domingos, rolava uma resenha entre os amigos. O Bate-papo se estendia até seguirem para as suas casas, no rumo do jantar.

Um belo dia, alguém falou que no lanche do professor Luickley Guimarães, a poucos metros baixando a Almirante Barroso, tinha um salgadinho e um suco muito gostoso e a turma resolveu fazer um lanche no final da tarde. Desceram até a pequena lanchonete e cada um pediu um salgadinho e um copo de suco. Enquanto isso, subia a Almirante Barroso, outro amigo, caboclo forte, trabalhador, filho da Ilha Grande, que veio morar na cidade, mas que trouxe quase tudo da Ilha Grande pra cidade, principalmente os costumes, o modo de falar e viver. De longe abordou a turma:

— Será que é hoje que eu vou merendar por conta dos pávulos?

E a resposta foi imediata partindo de um dos integrantes da turma:

— Vem, que perto da gente, miserável nenhum passa fome.

E ele então respondeu:

— Não é miséria. É que é difícil a gente tirar alguma coisa dessa gente.

Aproximou-se o Luikley, serviu-lhe um salgadinho e um copo de suco, que batendo papo, saboreou. E novamente jogou verde para os amigos, batendo na barriga em sinal de satisfação:

— Será que amanhã eu vou ter uma merenda dessa?

E a turma respondeu:

— Pode vir, que amanhã tu vais merendar novamente por nossa conta.

Terminado o bate-papo, cada um seguiu seu rumo. No dia seguinte, um pouco mais cedo, todos estavam novamente reunidos no canto do açougue do Perna-de-pau e ali encomendaram uma merenda para o Luikley, dessa vez uma abacatada. Lá por volta das cinco e meia da tarde, baixaram todos para a lanchonete, onde cada um recebeu o seu copo da deliciosa abacatada. Quando perceberam a aproximação do amigo da Ilha Grande, que subia da casa de seu irmão, chegando à lanchonete, abordou os amigos, dizendo:

— Eu já tinha visto gente de palavra, mas dessa vez eu tô tirando o chapéu pra vocês.

- aqui só tem gente séria rapaz!

O Luikley foi chamado e pediram a ele que servisse um copo da saborosa abacatada para o amigo que havia chegado. Luikley dirigiu-se ao freezer e tirou o copo que já estava pronto, preparado para o amigo. Entregou na sua mão, e ele saboreou a deliciosa merenda. Conversou um pouco e seguiu para sua casa que ficava a uns seis quarteirões, no Bairro da Cidade Nova.

No dia seguinte, às cinco horas da manhã, Beijoca estava no açougue para receber a carne, que chegava do matadouro naquele horário, para ser comercializada durante o dia. Percebeu a vinda do amigo da Cidade Nova, que logo lhe perguntou:

— Beijoca, tu viste o Luikley poraí?

— Não meu amigo, geralmente ele passa mais tarde. Mas o que tu queres com ele? (Já sabendo que vinha história).

— Ah, Benjamin, eu vou te contar. Ontem, quando eu saí daqui, baixei no rumo de casa, quando cheguei antes da Passagem, em frente da casa do finado Merunga, o bicho enrijeceu. "Olhe seu homi", eu tive dificuldade de chegar em casa, agasalhava para um lado, mudava para o outro e o bicho ferro, resolvi chamar um mototax, subi na garupa, quando encostei na traseira do rapaz, ele deu um pulo para cima do tanque, e assim ele foi até em casa. Entrei, a mulher esquentou a janta, e assim que acabamos de engolir eu fui logo dizendo: Hoje não tem esse negócio de novela. Vem pra cá! Meti a mulher pro quarto e couro comeu. Olha Beijoca, que abacate bom! Quanto mais eu botava no toco, mais o bicho queria guerra. Até que minha mulher me jogou de cima:

- Tu tá ficando maluco? Que diabos tu tem?

Eu me sentia um molecão de 18 anos… Tu sabes que eu era o fanxão na Ilha Grande, né? E a mulher não quis mais nada, e eu queria e ela nada. Deu 11 horas da noite, Beijoca, a mulher dormindo e eu no pátio de casa. Às vezes eu andava lá pela rua e vinha no pensamento Mais meu Deus, me aponte um xiri desocupado nessa cidade! E nada da bixa baixar, me subia uma quentura... Até que eu fui pra casa, umas duas horas, e peguei no sono. E agora eu acordei e vim aqui ver se eu falo com o Luikley.

— E o que tu queres com o Luikley?

— Eu queria saber se ele guardou a semente daquele abacate, que eu queria plantar Beijoca, olha rapaz eu posso até não comer do fruto dessa árvore, mas eu queria deixar essa herança para os meus netos. É uma fruta divina! Eu nunca vi uma coisa tão boa como essa!

E desceu a rua à procura do Luikley, deixando o Benjamim às gargalhadas, pois sabia que junto com a abacatada servida a ele, trituraram junto com a fruta, uma pílula de Viagra...

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