Jorge Ary Ferreira
Tenho pensado nos últimos dias sobre como a vida mudou desde a minha infância até os dias de hoje. As crianças atuais não têm ideia do que eram nossos brinquedos: dois caroços de tucumã e três buracos no terreiro, apostando na chulipa, isso depois do almoço, e, coitado de quem perdia. Um dos que eu mais gostava era o telefone de caixa de fósforo, duas caixas vazias e uns vinte metros de linha. Amarrávamos cada extremidade a um palito e, em um pequeno furo, introduzíamos os palitos amarrados à linha para o interior das caixas. Esticávamos a linha e conversávamos a distância, imitando os radiotelegrafistas da época:
- Alô, Fulano, está na escuta, câmbio.
- Na escuta, companheiro, alguma novidade? Câmbio.
- Por aqui, apenas o Títilo com a calça no estômago passando para o cinema. E por aí? Câmbio...
Assim passávamos a noite, juntava-se aquele monte de moleque ao redor daquela caixa de fósforo, noticiando as ocorrências de sua esquina para o outro grupo de moleques. Brinquedos dos mais modernos para a época, que os moleques de hoje nem sonham que existiram. Os brinquedos atuais são todos muito modernos, cheios de novidades tecnológicas, que têm contribuído para a formação de diversos gênios da nova geração. Dispensam comentários da minha parte, não por falta de conhecimento, uma vez que o Google oferece a definição de tudo a quem se interessar, basta querer conhecê-los. Mas pelo fato de não me interessar por "patavina" de nenhum deles, e também não sinto falta desse conhecimento. Fica empatado: se eu não sei o que é um Nintendo, por outro lado, esses moleques não sabem empinar um papagaio, não sabem jogar um pião.
Na comunicação, o avanço foi fantástico. Há poucos dias, um amigo me confidenciou que estava tirando acari da malhadeira quando seu celular tocou. Era seu filho, que ainda jovem foi morar em Manaus, formou-se, fez carreira em uma multinacional e ligou de vídeo de um país das bandas do Japão, ele não soube me precisar o qual, onde estava fazendo um curso. É ou não é uma maravilha? Quando penso que na minha juventude tudo chegava por bilhetes ("favor mandar pelo portador, um quilo e meio de açúcar, meio mole de tabaco, um litro de querosene, um quilo de sal e quartilho e meio de cana") isso, recados quando para as comunidades, e em cartas que demoravam semanas para chegarem a seus destinos, carregadas de novidades, anunciando o nascimento de sobrinhos, batizados e também fuxicos memoráveis, isso quando a comunicação era entre cidades. Hoje, a comunicação é fantástica; um simples celular te conecta ao mundo. No entanto, ninguém pode fazer algo fora do esperado que já está sendo filmado, isso sem falar dos satélites que, lá de onde o diabo perdeu o cachimbo, nos vigiam dia e noite.
Agora tem uma coisa que me deixa encucado nos dias de hoje. Francamente, já procurei entender; às vezes, fico pensando, e não acredito que a solução não tenha sido encontrada. Nada se compara à medicina; saímos do chá de jasmim de cachorro para sarampo, aquela famosa dedada melada de andiroba, mel de abelha e copaíba que a avó dava na garganta inflamada do curumim, do mercúrio cromo para drogas modernas, eficazes, vacinas que nos livraram de tantas moléstias. Hoje, você entra em um tubo e sai com o mapeamento completo do seu corpo; uma equipe médica opera por vídeo com a mesma segurança como se estivesse presente. Fui coletar sangue, houve dificuldade em encontrar minha veia, focaram uma lanterna no meu braço, apareceu veia para todo lado, fantástico o avanço. Apenas uma pergunta não quer calar: como é que, com tanta modernidade, raio-x, ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética, e sei lá mais o quê, para saberem que minha próstata está dilatada precisam enfiar um dedo no meu cu? "ÉGUA, tem alguma coisa errada"!