XUPA OSSO EM SANTARÉM (2004)

XUPA OSSO EM SANTARÉM (2004)

Jorge Ary Ferreira. 

O ano era 2004 e a idade ainda permitia certas loucuras, e loucura, era conosco mesmo - um grupo de amigos que nunca mediam esforços para executar o que planejava. O projeto era promover um arrastão do XUPA OSSO EM SANTARÉM com o intuito de divulgar nosso bloco e, principalmente, o CARNAPAUXI que já ganhava destaque nas manchetes carnavalescas da mídia regional na época.

Faziam parte desse sonho, além de mim, Duzinho, Rainero Giordano, Walmir Carvalho, Cleonice, dentre outros que arregaçaram as mangas e partiram para a execução.

Primeiro, procuramos o apoio do saudoso amigo e sempre atuante naquilo que era interessante para Óbidos, José (Zezinho) Azevedo de Aquino - que de pronto concordou com a proposta. Colaborávamos com parte do combustível necessário, e as passagens das pessoa que se interessassem em viajar nessa data, seriam cobradas normalmente, e o grupo de pessoas que representariam o bloco seria franqueada. Assim, podemos contar com o conforto e a segurança do B/M JEAN CARLO, uma das embarcações mais confortáveis da época.

Em Santarém, Walmir Carvalho acordou com uma dupla de amigos Marquinhos e Pereco que organizaram uma feijoada na praça de São Sebastião, promoveram o evento na mídia daquela cidade, e ficaram responsáveis pela alimentação dos 50 brincantes que nos acompanharam e com o do compromisso de contratar um trio elétrico para puxar o arrastão.

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Tivemos também a compreensão da importância daquele movimento por parte do poder público municipal - Prefeito Haroldo Tavares, que também nos ajudou através da secretário de obras - Sérgio Santos Filho, que nos deu a honra de sua presença na viagem.

E, assim, lá fomos nós. Garantidos pela competência do grande Comandante “Castelo”, maquinista “Guanabara”, marinheiros, todos armados, cozinha no comando do “Duduca da Mangueira”, abastecida com rancho para o café da manhã e “o famoso sopão do retorno” e o bar da embarcação funcionando com um detalhe, “até bater de cerveja”.

Saímos de Óbidos por volta de meia noite, com o objetivo de chegarmos no raiar do dia em Santarém, logicamente, como tudo estava dando certo. Chegamos a bordo momentos antes de desatracar, já com as primeiras geladas devidamente agasalhadas no “peritônio”. Deixamos as crianças em um camarote com as mães, pois minhas filhas e o “neriquinho” do Rainero estavam com quatro ou cino anos e subimos para o bar para completar o lastro e brindar o início da jornada. Com tudo correndo dentro dos conforme, pegamos logo o primeiro porre e fomos dormir.

O dia amanhecendo e o charmoso B/M JEAN CARLO, singrando as águas do Tapajós à procura do melhor local para atracação, enquanto Jorge Basília documentava tudo com sua inseparável câmera; Duduca na cozinha - já com o café começando a ser servido, quando notei o olhar atravessado do Duzinho sugerindo uma conversa ao pé do ouvido. Fui então para a cozinha com ele:

- Mas parceiro, tú já viste a quantidade de pessoas que vieram e que teremos que alimentar?

- Não Duduca! Têm os passageiros que vão sair, ainda.

- Passageiro? É tudo folião, mano velho!

Corri a vista no convés e vislumbrei a maior autoridade do nosso carnaval - que muito nos honrou com sua presença, Canela de Vidro e sua Senhora, rodeado de uma cambada de filhos, Tiruri, nossa saudosa Roseli e demais..., Beleléu do Mestre Olavo, “Irtinho” com o bloco do macacão com todas as crias, Márcio Cabelereiro, Vitor, Funeta, gente demais e para encurtar: Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, porém, não esperávamos tanta gente.

Voltei o olhar para o Duduca e indaguei:

- E agora Duduca? Temos café para tudo isso?

- Parceiro, esse barco atracando, desce, freta uma pampa e só me aparece aqui com a carroceria cheia de pão!

Na verdade ele sabia que eu tinha liberado para quem quisesse participar e não concordava. Duduca, nessas horas, era sempre mais prudente. E eu ainda achei de perguntar:

- Tá! Vou dar jeito no pão. Vai precisar de café?

- Café é o que tem aqui e o Tapajós se garante com a água!

Nesse inesquecível domingo de fevereiro, pela manhã, onde quer que andássemos em Santarém, encontrávamos os grupos de obidenses, passeando, como sempre alegres, alguns já esquentando o peito...

Por volta das 13hs., a Praça de São Sebastião lotada de obidenses somados aos conterrâneos radicados em Santarém - Necolândia, Branco Martins, Neivaldo, Norberto, Podalyro Neto..., e muitos amigos mocorongos que sabiam do evento e que haviam colaborado adquirindo a deliciosa feijoada. Marquinho e Pereco comandando a cozinha e o bar - residência do Walmir que ficava na rua dos Artistas - quase na esquina da praça, nos servia de apoio vestindo nossos mascarados, enquanto o Charito comandava o churrasco. E a cerveja, correndo solta....

Nessa mesma data, em Santarém, ocorria um evento político com a presença de Jader e Helder Barbalho - de onde chegaram alguns companheiros que nos informaram que a adm. Pública de Santarém não via com bons olhos nosso evento. Percebemos a presença da imprensa local, porém, a imprensa que fazia oposição ao prefeito, Mas não era problema nosso e nem responsabilidade dos parceiros de Santarém que eram pessoas sérias e resolvidas.

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Em um instante se criou um clima diferente na praça: Era o “Canela de Vidro” que chamava a atenção saindo da casa do Vamico, trajando sua famosa fantasia, juntamente com os mascarados no momento em que a TV Ponta Negra me entrevistava, e, no fim da entrevista a repórter me pediu que lhe apontasse um carnavalesco tradicional para que pudesse entrevistar, justamente no momento em que passava o “Canela” ao meu lado. Eu o chamei e fiz um breve comentário sobre a figura e deixei para que realizasse seu trabalho. Foi quando ela o abordou:

- Estamos aqui com o famoso Canela de Vido! Qual a sua idade?

- Sessenta e tantos anos.

- Quando o Sr. começou a brincar carnaval?

- Desde que me entendo por gente.

- O que faz um obidense deixar a sua terra para brincar o carnaval em Santarém?

- É que me disseram que aqui não tinha DIABO e eu vim pra cá!

Saiu dançando daquele jeito típico, com os braços contraídos para a costa, dança essa, muito copiada durante o carnaval pelos jovens brincantes obidenses.

Por volta das quatro da tarde, o trio que cobria o evento calou e arrumou uma desculpa para ir embora. Até hoje não sabemos o motivo. Houve uma certa revolta, mas logo um grande parceiro nosso chamado “QUITÓ”, primo do “Duduca”, tomou a frente e pediu calma. Saiu e com pouco tempo estava ele de volta com outro trio que havia contratado, nos entregou e disse:

- PRONTO, ESTE AQUI É DE VOCES, E JÁ ESTÁ PAGO!!!

Metemos o CD com as músicas do XUPA OSSO e a poeira saiu do chão, a euforia tomou conta da praça, maisena para todo lado, pessoas tirando fotos com os mascarados, o bloco dos macacos pelos galhos das mangueiras e assim saiu o arrastão por trás da igreja de São Sebastião, pegou a Rui Barbosa e por onde passava a multidão aumentava.

E assim, ajudamos a construir um dos momentos mais bonitos já vividos no Carnapauxis. Quem participou daquele sonho de carnaval jamais esquecerá. Retornamos com o maior carregamento de porres já visto na história da navegação da região. O bar funcionou até a atracação em Óbidos.

Para a nossa surpresa, recebemos a notícia de Santarém que a manchete do principal jornal da cidade, era: ÓBIDOS VEIO ENSINAR SANTARÉM A BRINCAR CARNAVAL! Com a foto de um macaco na mangueira da Av. Tapajós!

Jorge Ary Ferreira

02/05/2020

 

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