Por Otávio Figueira.
No último mês de outubro/22, aconteceu o lançamento do livro de autoria de José Pedro Haroldo de Andrade Figueira ou Haroldo Figueira e, para contemporâneos, Haroldo Xapury em que, basicamente, nos mostra “A narrativa que envolve o caso dos dois xarás Pedro Xapury e Pedro Costa, da qual até agora me ocupei, não esgota, obviamente, o assunto que contempla, em uma ponta, a prática do bem e, em outra, o exercício da gratidão. Há muito mais histórias com esses dois ingredientes virtuosos a serem admiradas e, em alguma medida, imitadas e replicadas. Quanto mais conhecidas forem, mais a humanidade se beneficiará”, assim expressa o autor sinteticamente.
Pela amplitude do tema e, como “medida imitada e replicada”, tomo à liberdade de colocar o autor como personagem principal na presente narrativa doravante denominado de Haroldo em que o reconheço e considero irmão-pai.
Filho primogênito de uma família humilde de sete filhos em que seus genitores são oriundos de formação intelectual, cultural e familiar paradoxalmente opostas. O pai recém-formado no curso de Contabilidade em Belém e a mãe tendo a “felicidade” de ao menos assinar o nome.
Menino de infância agitada, travesso, arteiro, apoiando-se, evidentemente, na falta d’água na cidade para chegar até o cais e, ao tempo de encher uma lata e outra, brincar refestelado de ”pega” nas águas barrentas e perigosas do Amazonas, entre outras brincadeiras. Em resumo, Haroldo foi “agraciado” com várias fraturas nos braços e iminentes afogamentos tal o seu “comportamento”.
Como todo jovem, porém, os sonhos de um futuro promissor se afloravam a medida que o tempo passava e as oportunidades surgiam, pois com o Haroldo não foi diferente.
Com a inteligência acima da média, se aprimorava no exercício da leitura com o objetivo de ampliar seus conhecimentos gerais e alicerçar sua refinada escrita e verbalização, atributos que mantém até os dias de hoje. Mas o seu sonho de consumo era ser médico. No entanto, os nossos planos não são os planos de Deus.
Eis que, em 31 de agosto de 64, nosso pai, Pedro Xapury, aos 53 anos de idade, veio a falecer. Ai, tudo degringolou; mudança de planos, de verdade como filho mais velho, com dezoito anos de idade, teve que assumir as rédeas da família (mamãe e mais seis irmãos menores). Ato contínuo prestou concurso, foi aprovado e assumiu o Banco do Brasil em 03.11.1964.
Não à toa o chamo de irmão-pai, de fato jamais nos deixou faltar algo desde a alimentação até os estudos, e praticamente só constituiu sua própria família com a primeira e única esposa Nazaré Galúcio, em 05.12.1970, depois, logicamente, que os irmãos praticamente tiveram condições de caminhar com as próprias pernas. Até hoje, quando necessário e como “conselheiro”, nos auxilia a dirimir quaisquer dúvidas. E tem, todavia, bastante credibilidade.
Contudo, apesar do tempo e a idade, jamais deixou de aspirar ao desejo obcecado de concluir um curso superior haja vista que em seu curriculum só constava o curso ginasial do São José. Em Manaus, por volta de 1974, aproveitou a oportunidade e concluiu, merecidamente, o Segundo Grau. Mais tarde em Natal/RN, atual residência, prestou vestibular e foi aprovado no curso de Direito na Universidade Federal, estudando apenas dois anos por incompatibilidade de tempo com o trabalho. Entretanto, depois de aposentado e filhos encaminhados (são quatro: Ileana, paraense de Óbidos; Luana, amazonense de Manaus; Haroldo e Heitor, potiguar de Natal), graduou-se em Filosofia laureado com a Medalha do Mérito Estudantil por ter sido considerado o Melhor Concluinte do período. Por último, a UFRN outorgou-lhe o diploma de Mestre em Filosofia.
Enfim, Haroldo sempre foi uma pessoa educada, observadora, humana, caridosa, perfeccionista, metódica e detalhista em tudo que se propõe fazer. Quem não se recorda de suas serenatas nas noites enluaradas na Cidade Presépio? Nos tempos de Ginásio São José quando presidiu o SEAS (Serviço e Assistência Social), levando o assistencialismo aos mais necessitados? No ano de 1981foi proclamado o Ano Internacional das Pessoas Deficientes pelas Nações Unidas. “Teve como objetivo chamar as atenções para a criação de leis e movimentos, na tentativa de dar ênfase à igualdade de oportunidades para as pessoas com necessidades especiais”. Nesse contexto, no ano de 1983, o nosso saudoso primo Homero Jairo Figueira de Souza, deficiente, precisava celebrar convênio entre o seu laboratório de análises clínicas “Santa Rita” e o INSS(SUS). Então ele solicitou ao Haroldo, que o atendeu prontamente, que redigisse uma correspondência ao então Ministro da Previdência (Jarbas Passarinho), expondo o seu caso (deficiente).
Por outro lado, quanto era anunciado o certame público para acesso a carreira administrativa do Banco do Brasil, evento bastante concorrido, devido à carência de material e professor, vários obidenses o procuravam para ministrar aulas. À sua disponibilidade era imediata e, ao fim e ao cabo, sempre apareciam vitoriosos na listagem dos aprovados. É importante deixar bem patente que lecionou por um bom tempo no Ginásio São José e ainda convidou o competente colega de banco, Vitorino, para fazer parte do quadro docente, quão preocupado com a qualidade do ensino.
Concluindo, sei que o texto ficou longo, porém só escrevi o que o meu coração mandou como testemunha viva, partícipe e cônscio de sua profícua trajetória pessoal e profissional, a fim de homenagear esse HOMEM, irmão-pai, educador, exemplo de ser humano, religioso, honesto, e, acima de tudo, temente a Deus, atendido pelo registro de Haroldo Figueira, aos 77 anos de idade. Tomara Deus que goze de saúde plena e paz para continuar sua caminhada proficiente entre afins, porque só assim entenderemos o significado filosófico da NOBREZA DA GRATIDÃO.
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