João Canto.
Embarcações de madeira, bote, canoas, bajaras e barcos são muito utilizados pelos Rios da Amazônia, por onde os ribeirinhos navegam, como se fossem ruas das grandes cidades. Os rios, os furos e os igarapés sempre foram as principais vias de acesso desse povo, que se desloca por esses caminhos fluviais em busca de caça, pesca, coleta de frutos e transporte entre as comunidades e cidades.
“As embarcações Amazônico surgem a partir de uma evolução histórica marcada pela imposição da ação colonizadora e missionária portuguesa, que somado aos saberes indígenas de construção de embarcações fizeram desencadear outras formas de saberes no processo de construção naval, gerando assim, diversos tipos de embarcações de características amazônicas”, informa Antônio Gualberto no artigo “História e Memória da Carpintaria Naval Ribeirinha da Amazônia”.
Os mestres ribeirinhos, há muitos anos constroem embarcações de madeira com conhecimento adquirido de seus antepassados, encontrados em todas as localidades da Amazônia, as embarcações atendem as suas necessidades básicas e atingem pequenas e grandes distâncias.
Para construção de uma embarcação de madeira, basicamente trabalham os seguintes profissionais: carpinteiro, marceneiros, ferreiros, pintores, ajudantes, mestres - que coordenam todo o trabalho - e os calafates, que são pessoas responsáveis pela vedação das frestas entre as tábuas das embarcações.
Mestre Calafate é uma profissão muito antiga, importante na construção naval e que perdura até os dias atuais, os quais atuam após a conclusão da embarcação. Se uma embarcação não for bem calafetada a água pode penetrar através de goteiras ou pode causar apodrecimento da madeira, de qualquer forma a embarcação fica vulnerável e corre o risco de afundar.
Como mencionado, a calafetagem é a vedação dos espaços existentes entre as peças de madeira que são usadas para a construção da embarcação, de forma a impedir que a água se infiltre. Para essa vedação é utilizada fibra vegetal, muito comum o uso do algodão tingida com zarcão em pó, tinta vermelha, cuja base é óxido de chumbo, misturado com óleo.
Após a calafetagem inicial é aplicada uma massa composta de óleo de mamona ou carrapateira cal e cola líquida fixadora à base de epóxi que, além de reforçar a calafetagem primária ainda dará, depois de seca e lixada, um acabamento adequado para receber a pintura do casco.
“A calafetagem só tornará a embarcação realmente estanque depois de seu lançamento à água, quando ocorrerá o encharque completo da madeira, proporcionando, através de sua dilatação e da expansão da fibra vegetal, a retração da espessura de cada brecha calafetada”, explica Carlos Eduardo Andrade em seu artigo “A carpintaria naval do nordeste paraense”.
No Igarapé das Fazendas, região do Lago Grandes, município de Juruti, a profissão de Mestre Calafate continua ativa, haja vista que as embarcações de madeira continuam sendo fabricadas e muito utilizadas na região, assim como em toda Amazônia.
Lembramos aqui uma geração mais antiga de Mestres Calafates do Igarapé das Fazendas, os saudosos: Jamaci Amoedo do Amaral, Raimundo Amoedo do Amaral (Caiçara), Raimundo Paz do Amaral, Humberto Albuquerque, Manoel de Almeida Gomes, Raimundo Souza (Dirijo), Milton Albuquerque, Manoel Paiva e outros. A geração mais nova e que ainda está ativa, citamos: Rui Soares, Mariano Souza, José Gomes e outros.
Além de Mestres Calafates, muitos deles tinham e têm outras profissões, como Jamací Amaral (in memoriam), que era um exímio pescador, muito conhecido na região e que tivemos a oportunidade de fotografá-lo em atividade, durante uma visita no Igarapé das Fazendas.
Em recente viagem ao Igarapé das Fazendas, Lago Grande, janeiro de 2022, na companhia de dois Podalyros, o Amaral Sousa e o Neto, como também, Aline Canto, Siqueira e esposa e a prole, presenciamos o Mestre Calafate Rui Soares calafetando uma embarcação na Fazenda Nava, onde fomos recepcionados por Romário Andrade e sua família.
Aproveitamos a oportunidade e fotografamos Rui Soares, morador no Igarapé das Fazendas, comunidade do Cruzeiro, que mostra o processo do ofício de Calafate e os componentes da calafetagem, como: fibra vegetal (algodão), zarcão, breu, ferros de calafate, etc.
Rui, além de Calafate é pescador, vaqueiro dos bons e um excelente contador de histórias e causos da região do Lago Grande. Suas narrativas prendem a atenção do espectador, como se diz por essas bandas: “caboco bom de papo”.
Assim, muitos profissionais mantém a tradição de calafetar, um ofício que ainda existe, resiste ao tempo e tem grande importância dentro dos profissionais da construção naval: o calafate.
TODAS AS FOTOS....
http://obidos.net.br/index.php/artigos/4758-lago-grande-mestres-calafates#sigProId60d427b327
www.obidos.net.br - Fotos de João Canto
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Rui Soares ❤